De 24 de novembro a 01 dezembro de 2013, o Movimento Saúde Mental Comunitária (MSMC) realizou uma formação em Abordagem Sistêmica Comunitária (ASC), facilitada pelo médico psiquiatra padre Rino Bonvini e a terapeuta comunitária e acadêmica de psicologia, Natália Tatanka. A formação da tecnologia socioterapêutica aplicada pelo Movimento, aconteceu no centro de retiros Jesuíta, em Palca, próximo a La Paz, capital da Bolívia.

Ali, na base da montanha Illimani, a cerca de 4 mil metros de altitude, os 25 participantes, em sua maioria lideranças comunitárias, além de três médicos e alguns psicólogos e enfermeiras, participaram intensamente de uma produção criativa que envolveu arte, dinâmicas de grupo e os processos socioterapêuticos da Abordagem Sistêmica Comunitária. Também foram realizadas rodas de terapia comunitária e oficinas de arteterapia.

Houve momentos em que os participantes realizaram um mergulho em si para o autoconhecimento, com a experiência da terapia da respiração. Noutros momentos, trabalharam a identificação de problemas e perspectivas de solução.

A autopoiese comunitária

Toda a formação foi orientada pelo paradigma da autopoiese comunitária, estudo iniciado pelos biólogos chilenos Humberto Maturana e Francisco Varela na década de 1970, depois amplificado no campo social por pesquisadores, como o alemão Niklas Luhmann.

Originada do grego, a palavra autopoiese reúne auto (próprio) + poiesis (criação). Essa é a resultante da Abordagem Sistêmica Comunitária: a co-construção de uma dinâmica de “autopoiese comunitária”, como define o padre Rino Bonvini.

De acordo com o psiquiatra, os participantes estavam motivados pelo propósito de adquirir técnicas socioterapêuticas e de aprimorar qualitativamente o serviço que realizam em suas comunidades e ambientes de trabalho através do conhecimento da ASC.

Ao término da formação dessa tecnologia socioterapêutica, os educandos assumiram o compromisso de atuar em suas comunidades, realizando as técnicas aprendidas e, ao final, preparar um relatório para fazer jus ao certificado de conclusão do curso, com a realização de dez experiências de Terapia Comunitária.

A formação foi coordenada por Narel Gómez, representante da CBM, e Bitia Vargas, da Saúde Mental Infantil Taypi. Também participaram Rossmery Crispín, da Reabilitação Baseada na Comunidade, e Rubén Orlando Alejo Conde, da Universidade Salesiana, formandos da turma 2012. Além deles, Irene Poma e dr. José Antonio Muñoz, visitaram o grupo, trazendo muita alegria.

De acordo com Bonvini, as bases teóricas da Abordagem Sistêmica da Família entre, elas a Teoria Geral dos Sistemas, a Teia da Vida, a Terapia Comunitária, processos de sensibilização, a Ludoterapia, as vivências grupais e a Pragmática da Comunicação Humana, possibilitam o surgimento da ASC no contexto comunitário. Aí, são estudados autores como Bertalanffy, Capra, Barreto, Antunes, Militão e Watzlawick.

A ASC reúne técnicas para o desenvolvimento de uma terapia de múltiplo impacto, tais como a Terapia Comunitária, a Terapia da Respiração, a Arteterapia, entre outras terapias complementares para o resgate da autoestima e a promoção da vida.
O serviço socioterapêutico do MSMC, orientado pela ASC já ganhou reconhecimento em artigos científicos (Bosi et al, 2011; 2012) e a confirmação da Fundação Banco do Brasil, como uma tecnologia social eficiente, eficaz e replicável, em 2009.

Esta foi a segunda formação com a tecnologia socioterapêutica oferecida a profissionais de saúde e lideranças comunitárias bolivianas, realizada através da parceria da Universidade Estadual do Ceará (UECE), Universidade Salesiana de Bolívia e do Movimento de Saúde Mental Comunitária.

Em novembro de 2012, na primeira formação em Abordagem Sistêmica Comunitária, ministrada também por Rino e Natália, participaram 23 pessoas. Foi o início do convênio entre as duas universidades, com a participação da organização cristã Internacional CBM (Christoffel-Blindenmission) e a Cáritas da Bolívia.

 

Sobre o Movimento Saúde Mental

Fundado em 1996, o Movimento Saúde Mental atua, entre outras coisas, com grupos de terapia comunitária, embasado pela Abordagem Sistêmica Comunitária, e desenvolve atividades para todas as faixas etárias no bairro Bom Jardim, em Fortaleza e bairros vizinhos.