Em 1996, como parte da caminhada dos Missionários Combonianos em Fortaleza (Ceará/Brasil) e das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), padre Rino Bonvini reuniu um grupo de lideranças comunitárias e iniciou o Movimento Saúde Mental Comunitária do Bom Jardim, hoje Movimento Saúde Mental (MSM).
Na época iniciou-se um trabalho para criação de espaços de escuta e de acompanhamento terapêutico para famílias em situação de risco que viviam em condição de extrema pobreza. Marcadas pela marginalização social, essas pessoas conviviam com a falta de recursos básicos, com baixo desenvolvimento escolar, desemprego, falta de perspectivas e baixa autoestima.
Vindas do interior ou migrantes de outros bairros de Fortaleza, as pessoas experimentavam um elevado grau de estresse, ansiedade e adoecimento, especialmente diante da nova realidade em que se encontravam, sem raízes culturais, sem as trocas solidárias do campo, sem vínculos comunitários. Assim, não se sentiam motivadas a solucionar seus problemas.
Esta foi a base sobre a qual se organizou um grupo de voluntários/as, constituído por lideranças das CEBs, seguindo a visão ecumênica de Dom Aloísio Lorscheider, Arcebispo de Fortaleza na época, e motivadas pela Teologia da Libertação.
O primeiro passo foi preparar profissionais para o atendimento à comunidade. Em parceria com a Universidade Federal do Ceará (UFC), supervisão do idealizador da técnica da Terapia Comunitária, o médico e antropólogo Adalberto Barreto, e o acompanhamento de padre Rino, formou-se o primeiro grupo de terapeutas comunitários/as.
Inicialmente foram criados grupos de autoestima, de terapia comunitária e, em casos excepcionais, eram realizados acompanhamentos psiquiátricos. A partir de então, passou-se a desenvolver com adultos, adolescentes e crianças, um trabalho terapêutico visando proporcionar autorrespostas para as situações limite experimentadas por eles/as. Vivenciando uma experiência autopoiética, foi neste cenário que o padre Rino desenvolveu a metodologia terapêutica da Abordagem Sistêmica Comunitária (ASC) que busca equilibrar as múltiplas dimensões biopsicossocioespirituais do ser humano em seu processo de florescimento.
Neste sentido, o objetivo dos serviços realizados tem sido favorecer nas pessoas o desenvolvimento individual e comunitário, o aumento da consciência de si e da realidade econômica, social, cultural e política que as envolve. Seguido do reconhecimento das potencialidades e da dignidade de cada uma, estimulando-as a enfrentar as problemáticas decorrentes da situação de exclusão em que vivem, criando as condições para superá-las.
Assim, investe-se em mudanças positivas para a comunidade, de maneira que cada pessoa torne-se agente de transformação de si e das causas que produzem a miséria, sendo protagonista de sua própria existência e corresponsável pela construção de soluções coletivas.
Passadas algumas décadas, diversas atividades são desenvolvidas pelo Movimento Saúde Mental no campo socioterapêutico: grupos de terapia comunitária; grupos de autoajuda para o resgate da autoestima; atendimentos de biomagnetismo, massoterapia, reiki, acupuntura e outras Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS); acompanhamento de crianças e adolescentes através do projeto Sim à Vida; valorização da cultura indígena com ações junto a etnias cearenses, especialmente os Pitaguary; oficinas de arteterapia na Casa AME (Arte, Música e Espetáculo); formações na Escola de Gastronomia Autossustentável (EGA).
Além destas ações, nos anos 2000, o MSM iniciou o caminho para construção de sua autossustentabilidade através do Giardino Buffet, negócio social cuja renda é revertida para atividades e projetos da instituição, e do sítio Wopila, espaço localizado em Maracanaú, disponível para aluguel para realização de encontros, formações e eventos, assim como destinado a abrigar as formações realizadas pelo Movimento em ASC e PICS.
O resultado mais significativo do trabalho até aqui realizado tem sido acompanhar a evolução de milhares de pessoas, antes desmotivadas, confusas ou adoecidas diante da problemática social que se reflete na vida de todos/as. Essa realidade de dor, medo, fobias e isolamento tem sido alterada positivamente.
Sem receios, pode-se afirmar que se o Grande Bom Jardim tem passado por transformações e melhorias nessas últimas décadas é porque as pessoas estão mudando para melhor. Muitas saíram de um estado de inércia e hoje são protagonistas da própria vida. Eis a conquista maior do Movimento Saúde Mental: o fortalecimento do ser humano em sua integralidade, graças a um processo contínuo de construção coletiva pautada no amor, no respeito e na alegria.