O Movimento Saúde Mental tem sua sede no bairro Bom Jardim (numa área chamada também de Santo Amaro). O Bom Jardim é um bairro de Fortaleza, Ceará, onde moram 37.758 pessoas (IBGE, 2010).

A partir dos anos 1980, o Bom Jardim, por ser referência de mobilização social, cultural, econômica e política se foi consolidando no imaginário como uma região, agregando, simbolicamente, os bairros: Granja Portugal, Granja Lisboa, Canindezinho e Siqueira. Aos poucos se consolidou a terminologia Grande Bom Jardim.

Os cinco bairros do Grande Bom Jardim, incluindo mais de 20 comunidades de denominações diferentes, têm aproximadamente uma população de 204 mil pessoas. (IBGE, 2010).

Os meios de comunicação, historicamente a TV e o Rádio, têm contribuído para elaborar no imaginário da população de Fortaleza um estigma para o Bom Jardim: Esse seria o lugar do “vixe”, que se destaca pela violência, insegurança, habitações precárias e população empobrecida.

Atualmente, mesmo com o avanço de infraestrutura viária, escolas e de equipamentos de atenção à saúde e à assistência social, ainda persistem áreas de habitações precárias, com ausência de pavimentação e de saneamento ambiental, com segmentos de pessoas marcadas por desemprego e fome. Trata-se de um segmento de população vulnerabilizada pela ausência de políticas públicas garantidoras de direitos fundamentais.

Poucos têm conhecimento do nível de organização social existente na região, que reúne dezenas de associações comunitárias e organizações da sociedade civil que promovem atividades culturais, artísticas, econômicas e comunitárias. A exemplo do Movimento Saúde Mental.

O bairro Bom Jardim, segundo moradores mais antigos, começou a surgir em 1961, com a chegada das primeiras famílias.

Uma parte desta organização tem relação com a chegada dos missionários combonianos à área em 1987, trazendo uma visão diferente do modo de ser Igreja. Religiosos e leigos, àquela época, assumiram os trabalhos da Igreja Católica na região movidos pela Teologia da Libertação e pelo modelo de Comunidades Eclesiais de Base.

O formato de paróquia fora substituído por ‘área pastoral’, com a opção preferencial pelos mais pobres numa perspectiva de conscientização da realidade de negação de direitos, buscando a transformação dessa realidade por meio da ação política de libertação, inspirada no evangelho e no Concílio Vaticano II. Essa linha pastoral era apoiada pelo então arcebispo Dom Aloísio Lorscheider.

A Área Pastoral do Bom Jardim reunia junto às pastorais tradicionais da Igreja, um conjunto de Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) interligadas a uma caminhada comum. Nos anos 2000 esse modelo perdeu força, dando lugar ao retorno do modelo paroquiano tradicional.

Permanece o desafio de fazer do Bom Jardim um lugar onde a formação humana seja respeitada e incentivada a se libertar das amarras do preconceito e da negação de direitos. Os grupos e organizações sociais foram fortalecendo o compromisso de respeitar as diferenças de gênero, de orientação sexual, de crenças, de cultura e de promover os direitos humanos e a vida em plenitude.

Segmentos da Igreja Católica têm procurado estar mais presentes no cotidiano das comunidades, compartilhando dificuldades e buscando soluções para os problemas ao lado das pessoas. Também têm assumido uma postura ecumênica, dialogando com outras manifestações religiosas.

Desta forma, foram se concretizando as lutas sociais por melhores condições de vida. Mobilizações por terra, por água, por vias com boas condições de tráfego, por escolas, por mais equipamentos de saúde e outras necessidades básicas deram lugar a conquistas. Uma dessas conquistas foi a instalação do Centro de Atenção Psicossocial Comunitário do Bom Jardim, mobilizado pelo Movimento Saúde Mental.

Aos poucos, com o passar dos anos, prospera a consciência das pessoas sobre a importância de serem os sujeitos transformadores e construtores de sua história, respeitando as ideias e os valores de cada um(a).