O Movimento Saúde Mental (MSM) realizou neste 29 de abril, na Palhoça Terapêutica, no Bom Jardim, Fortaleza, o Simpósio de Direitos Humanos e Saúde Mental dos povos indígenas. 

Na Mesa redonda “Vozes indígenas: Direito à vida, à saúde, à educação, à cultura e ao território” as mulheres indígenas deram o tom do cuidado da saúde mental a partir da conexão com a mãe terra, da preservação da cultura e da permanente luta por demarcação de seus territórios.

Participaram: Rosa Pitaguary, liderança indígena, graduanda em Antropologia na Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab); Vitória Pitaguary, professora da escola indígena Ita-Ara; Rute Anacé, antropóloga e doutoranda em Ciências Sociais pela Universidade de Salamanca, na Espanha. Francilene e Nadia Pitaguary, filhas do pajé Barbosa.

Pra Rosa “Muitas vezes a gente procura ajuda e a gente não tem isso dentro das nossas unidades de saúde nas nossas aldeias. Dentro da Sesai nós temos uma psicóloga pra tratar mais de 30mil indígena entre 15 povos indígenas. Então pense numa psicóloga pra dar de conta de tudo isso?” Ela disse que houve aumento de casos de ansiedade durante a pandemia, especialmente pela dificuldade de o indígena ficar recluso “a gente não vive preso que nem passarinho”.

Rute Anacé disse que “são 305 povos indígenas no Brasil, falando seus próprios idiomas, mas que as pessoas ainda querem ver índio nu pra reconhecer”. Disse ainda que no Ceará era proibido ao índio falar o próprio idioma, tupi, por risco de ser morto, assim a língua foi esquecida e agora é retomada nos rituais.

Rute também destacou: “Eu tenho muito o que agradecer ao Movimento Saúde Mental. Eu participei do projeto ‘Jovens Indígenas realizando sonhos’ e tive o apoio deles também na graduação. Eles me acompanham até hoje. E essa força de mostrar sempre que eu tenho capacidade de chegar onde eu quiser eu só tenho a agradecer mesmo. Gratidão ao Movimento Saúde Mental”.

Rute disse ainda que no caso dos Anacé, “em 2018 fomos removidos do território tradicional, assim ficamos habitando a atual Taba dos Anacé.” A mudança diz ela, se deu em nome do “progresso” com as obras do porto do Pecém.

A Francilene questionou sobre o que é ser índio e respondeu: “É aprender todo dia, não é só estar em Brasília lutando por nosso reconhecimento, é também fazer uma comida, preparar uma isca, ir ao rio pescar.” Também disse que ainda há muitas pessoas no Ceará que não se reconhecem índios embora digam: “minha avó era índia”.

Vitória, professora da escola indígena disse ter como missão articular os jovens da aldeia para manter viva a força da etnia, fazendo um resgate da cultura. Disse ainda que também é preciso educar as crianças para conhecer a cultura indígena.

Já Nadya Pitaguary fez agradecimento à mãe terra que “é uma gigante” cuidando de nós. Disse se sentir uma mãe também, cuidando dos seus parentes. Cantou e chamou os jovens indígenas a realizarem um toré para encerrar aquele momento.

Todas elas teceram homenagem a Benício Pitaguary, jovem liderança indígena homenageada no Simpósio. Benício, que faleceu em março, com apenas trinta anos, já fazia mestrado na UFC, viajava pelo Brasil e por outros países levantando sua arte de pintura de corpos com tintas naturais extraídas da floresta.

A Casa AME, responsável pela organização do evento, tem como um dos princípios a promoção do intercâmbio cultural. No Simpósio, esse princípio esteve presente durante toda a programação, entre os convidados, os profissionais do MSM, as crianças do projeto Sim à Vida e a comunidade do Bom Jardim.

Redação: Elizeu Sousa/ Rayssa da Costa

Fotos: Yago Medina e Rayssa da Costa

 

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