O padre Rino Bonvini concedeu entrevista à TV União como colaboração para a “campanha janeiro branco”, voltada para a saúde mental. A ação acontece durante esse mês de janeiro. Bonvini comentou sobre como superar a depressão e as soluções desenvolvidas pelo Movimento Saúde Mental Comunitária (MSMC) para acolher e cuidar de pessoas acometidas por esse distúrbio de saúde.

“A depressão é a doença que mais inabilita, atualmente, no mundo”, destaca o padre que também é psiquiatra e professor.

“A depressão pode ser classificada como leve, moderada ou grave. Quando é leve pode apresentar sintomas como tristeza, angústia, insônia, falta de motivação, falta de energia”, destaca padre Rino. De acordo com ele, é preciso cuidar preventivamente, pois começa assim, e depois os sintomas podem se agravar, chegando até ao pensamento suicida, que caracteriza a depressão grave.

Rino lembra que o MSMC surge em 1996 a partir do acolhimento às pessoas, da escuta e da ajuda para que elas encontrem o sentido da dor e do sofrimento psíquico.

“Organizamos uma série de respostas através de grupos terapêuticos de desenvolvimento e fortalecimento da autoestima, um trabalho de prevenção da dependência química, cursos profissionalizantes, uma casa AME, que é arte, música e espetáculo, que oferece a possibilidade de desenvolver a inteligência artística das pessoas”.

Mais recentemente, foi criada a Escola de Gastronomia Autossustentável, em parceria com o programa Gastronomia Social da Universidade Federal do Ceará (UFC) e Receita Federal, entre outros. Ano passado, foi inaugurada uma escola de iniciação à robótica e à produção de jogos digitais em uma parceria com o Instituto Nordeste Cidadania (INEC).

Ainda em 2005, o MSMC mobilizou a instalação e a inauguração de um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) Comunitário no Bom Jardim, numa parceria com a Prefeitura de Fortaleza. Em 2011, na mesma parceria, também instalou uma Residência Terapêutica para cuidar de pessoas com transtornos mentais crônicos que viviam em hospitais psiquiátricos sem contato com suas famílias de origem.

“Hoje nós vivenciamos uma realidade que não é próxima da nossa qualidade de vida. Não temos tempo para nós mesmos. Temos pouco tempo para nos cuidarmos”, adverte padre Rino.

“Então a coisa mais importante é ter lazer de qualidade em todo o final de semana. Ter um tempo pra si, pra ter um silêncio, uma calma, um relaxamento, uma oportunidade para entrar em contato consigo mesmo, porque a base da autoestima é o autoconhecimento”, enfatiza Rino.

“Nós precisamos de alguém que nos escute, nos acolha quando estamos estressados ou preocupados ou com uma dor ou um sofrimento psíquico. E ainda se faz necessário o fortalecimento da rede de amigos, de pessoas que nos fazem bem. Nós somos como as plantinhas, precisamos de uma fotossíntese emocional. Precisamos de um sol humano, de um calor humano que aqueça a nossa humanidade e a nossa vontade de viver”, comenta.

Abordagem Sistêmica Comunitária (ASC)

Essas dicas acima de como superar a depressão estão incluídas na metodologia socioterapêutica de múltiplo impacto, envolvendo uma série de técnicas e processos, criada pelo MSMC, denominada Abordagem Sistêmica Comunitária (ASC).

A ASC trabalha o corpo, a mente, as relações e a espiritualidade. Porque a espiritualidade é uma forma de entrar em contato com o melhor que nós podemos ser. A partir da própria fé, da própria religião, da própria espiritualidade é importante ter esse espaço para sempre desenvolver a parte melhor de nós. Isso começa no silêncio, começa em leituras de qualidade, começa na participação dos rituais que podem fortalecer o ser humano.

“Nossa metodologia abrange essa oportunidade de criar espaço onde a pessoa pode se encontrar, se cuidar, desenvolver uma autoestima saudável e superar a depressão. Então, ter um processo de autorrealização eficaz e agradável”, reitera Bonvini.

“Especialmente neste momento de grande fragmentação, de violência, de falta de solidariedade, de generosidade, precisamos voltar à fonte de nossa essência. Que é exatamente esse espaço sagrado onde nós podemos desenvolver e fortalecer a parte melhor que nós somos e que podemos ser”, conclui Rino.

A Abordagem Sistêmica Comunitária, atualmente reconhecida pela MHIN (Mental Health Innovation Network) como inovação em saúde mental.

O MHIN é uma Rede de Inovação em Saúde Mental, sediada no Departamento de Saúde Mental e Abuso de Substâncias da Organização Mundial da Saúde, na Suiça; e na Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres.

 

Sobre o Movimento Saúde Mental

Fundado em 1996, o Movimento Saúde Mental atua, entre outras coisas, com grupos de terapia comunitária, embasado pela Abordagem Sistêmica Comunitária, e desenvolve atividades para todas as faixas etárias no bairro Bom Jardim, em Fortaleza e bairros vizinhos.