Padre Elias Arroyo Román é mexicano, com experiência de dez anos de missão em Moçambique. Está iniciando um trabalho em Boa Vista. Ele e os padres Domingos Cibei e José Leyton, acompanham 17 comunidades indígenas nas regiões do Baixo e Médio São Marcos e Murupu, na diocese de Roraima. São povos das etnias Macuxi e Wapixana. De forma emergencial, os combonianos junto a outros religiosos, religiosas, leigos e o povo roraimense atendem os índios Warau, migrantes vindos ao Brasil devido a situação econômica e social de seu país de origem, a Venezuela.

No início deste mês, por indicação da Província Comboniana no Brasil, o padre Rino Bonvini, psiquiatra, presidente do MSMC, visitou a missão comboniana em Boa Vista. A partir daí, os padre Rino e Elias, acertaram uma parceira, inicialmente, com idas do padre Rino a Boa Vista a cada dois meses. A proposta é realizar um serviço de acolhimento e cuidado de pessoas para fortalecimento da saúde mental, especialmente pela verificação do crescente índice de suicídio entre os povos indígenas da região.

Padre Rino irá implementar a Abordagem Sistêmica Comunitária, o método que qualifica e envolve pessoas da comunidade em processos preventivos e socioterapêuticos visando o equilíbrio biopsicossocioespiritual. A tecnologia social foi criada por ele junto às Comunidades Eclesiais de Base, em Fortaleza, há 21 anos.

Roraima é o estado brasileiro da Amazônia legal com maior presença de índios em terras demarcadas. Proporcionalmente é o estado do país com maior presença indígena, cerca de 70 mil habitantes de diversas etnias (IBGE, 2010).

Veja a entrevista com o Padre Elias, realizada pelo jornalista Elizeu Sousa.

MSMC – Padre Elias você poderia explicar o que é o biomagnetismo?

É uma técnica descoberta pelo médico mexicano Dr. Isaac Goiz Duran nos anos 1980. Consiste numa revisão da cabeça aos pés, o diagnóstico e tratamento se fazem com ímãs de grande potência, dentre 3.500 a 5.000 Gauss [unidade de medida de fluxo magnético]. Isto permite identificar diferentes patologias no corpo humano e tratar logo a seguir da descoberta, em apenas 15 minutos.

É uma técnica não invasiva, indolor com realmente poucas, muito poucas, contra indicações, e com uma sensação de bem-estar porque relaxa, acalma e serena a maioria dos pacientes que dela fazem uso. Trata infeções por vírus, bactérias, fungos, e parasitas, trata disfunções do corpo (glândulas, aparelhos e sistemas) e alguns pontos chamados especiais.

O mecanismo de ação se dá “equilibrando” o meio ambiente interno do corpo, equilibrando o pH, isto é, o grau de acidez ou alcalinidade de cada lugar do corpo, para que este, possa funcionar de uma maneira correta. Equilibrando o pH, nem bactérias, nem vírus, nem fungos ou parasitas aguentam o dito ambiente equilibrado. São eliminados e é ai, onde o organismo começa a “reparação” de qualquer dano causado pelos micro-organismos no corpo do “bio-acolhido”.

O paciente deita numa maca sem tirar a roupa do corpo e nem sequer os sapatos, até porque, é ai onde nós podemos ler a situação de cada parte do corpo que a gente vai revisando. Encontrando algum problema colocam-se os ímãs negativo e positivo onde o corpo precisa. Ficam 15 minutos nesse lugar e são retirados uma vez que já fizeram o efeito desejado do equilíbrio do meio interno.

MSMC – Como o biomagnetismo se insere nas práticas complementares do cuidado para melhorar a saúde indígena?

Bom, não seria capaz de responder esta questão falando de algo muito concreto que é a saúde indígena, porque eu estou chegando a esta região de Roraima. Tenho apenas dois meses de trabalho aqui e não tenho trabalhado de forma direta com a população indígena antes desta experiência. Mas pela prática em outros lugares do Brasil pude constatar que o biomagentismo vem se somar a outras técnicas chamadas interativas nos cuidados da saúde. Com um grau de aceitação muito grande, com resultados muito bons e alentadores, em todos os campos da saúde das pessoas, seja qual for a sua realidade social, cultural, religiosa, etc. Portanto, devo dizer que a técnica serve para todo ser humano e se se trata de indígenas com muito mais razão pelo fato destas comunidades encontrarem-se distantes dos grandes centros com tratamentos médicos nas distintas especialidades. Um recurso simples, econômico, prático para evitar grandes deteriorações à saúde, pode estar na mão de todo e qualquer grupo, por mais isolado que este se encontre.

MSMC – Quais são os maiores desafios da saúde mental indígena e como o MSMC poderá ajudar neste processo?

Com a visita do padre Rino a Boa Vista, Roraima, e aos centros que atendem a saúde indígena, houve uma preocupação particular pelo número cada vez maior dos suicídios indígenas. Também porque não há um profissional (psiquiatra) que possa ir ao encontro desta problemática. Chama a atenção este fenômeno estranho que não temos como explicar. Por isso, o MSMC pode dar uma contribuição preciosa neste campo atendendo casos particulares que vão caminhando para isto, porém, ainda mais importante buscando as causas sociais, econômicas, etnológicas, etc, deste fenômeno atual. Além de que este gesto, de um grupo situado em Fortaleza, Ceará, abre-se missionariamente a outras realidades, mesmo que dentro do Brasil, porém, saindo do espaço até agora normal de trabalho a um outro espaço que grita e pede ajuda.

MSMC – Quais são as etnias atendidas e quais as suas características?

A comunidade que atende à população indígena aqui em Boa Vista ficou muito animada pela ajuda profissional que possa ser prestada a estes irmãos. E a comunidade comboniana que reside aqui acolhe com imensa alegria esta possibilidade, buscando uma melhor saúde para o nosso povo.

Roraima, proporcionalmente, é o estado brasileiro com maior população indígena, com quase 70 mil indígenas. São dois grandes grupos a serem contemplados segundo a orientação de atendimento da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai). Grupo Leste formado pelos Yanomami e outros grupos próximos culturalmente e, o grupo Oeste, com dezenas de grupos de diferentes etnias.

A comunidade comboniana presente em Boa Vista atende 17 comunidades indígenas nas regiões do Baixo e Médio São Marcos e Murupu, sempre na diocese de Roraima, das etnias Macuxi e Wapixana. De forma emergencial, os combonianos junto a outros religiosos, religiosas, leigos e o povo roraimense atendem os índios Warau, migrantes vindos ao Brasil devido à situação econômica e social da Venezuela.

MSMC – Padre Elias, Qual a sua formação e o que o senhor gostaria de acrescentar?

Eu sou médico clínico geral, formado no México, com experiência de missão de dez anos em Moçambique. E com a redescoberta de que Comboni queria “Salvar África com África”, isto é, não adianta dar muitas consultas até o esgotamento pessoal, sempre será mais favorável “formar” pessoas que atendam ao próprio povo, do que gastar a vida atendendo muito pouco de forma pessoal. Acredito na formação de agentes no campo da saúde que possam levar para frente um projeto que ajude a “não depender” seja duma economia excludente, como de um comércio da saúde.

 

Sobre o Movimento Saúde Mental

Fundado em 1996, o Movimento Saúde Mental atua, entre outras coisas, com grupos de terapia comunitária, embasado pela Abordagem Sistêmica Comunitária, e desenvolve atividades para todas as faixas etárias no bairro Bom Jardim, em Fortaleza e bairros vizinhos.