O Benício Pitaguary encantou-se. Nesta segunda-feira, 28/03/2022, aos 29 anos, não resistiu a uma parada cardíaca. O guerreiro da cultura, por meio do grafismo e das pinturas corporais indígenas, disse ao mundo que a arte indígena é também uma poderosa lança na luta e na resistência dos povos originários. Destacou-se no Brasil e fez incursões ao exterior, levando sua arte.

O sobrinho do Pajé Barbosa, Benício Pitaguary, na juventude, coordenou o Centro de Aprendizagem do Bom Jardim (CABJ) do Movimento Saúde Mental (MSM). Era o cursinho pré-vestibular da periferia. Ele e dezenas de jovens entraram na universidade por meio do CABJ. Benício tornou-se bacharel em Geografia e fazia mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente na Universidade Federal do Ceará.

Ainda no Bom Jardim, Benício integrou a Juventude Indígena Realizando Sonhos, projeto do MSM. Ali, junto ao Padre Rino e à equipe do MSM ia à aldeia Pitaguary. Aprofundou sua identidade étnica e, definitivamente, assumiu sua etnia. Tornou-se um defensor da cultura indígena. Era líder, sereno, simpático, agregador. Mobilizador cultural de seu povo e gerador de amizades por onde passava.

Liderança jovem e atuante na conservação da história indígena por meio de museus que resgatam e mantém viva a tradição dos povos originários, Benício destacou-se na luta pelos direitos indígenas no Ceará. Integrava o Comitê Gestor dos Povos Indígenas do Estado, que tem cadeira no Conselho de Cultura do Estado.

Na tradição Pitaguary e de outros povos, quando um líder alcança elevado grau de sabedoria e destaque, ao morrer se converte em ‘Encantado’. Eles permanecem como fonte de poder e cura junto ao seu povo.

Nesta terça-feira, 29/3, parentes e amigos de Benício fazem a última despedida entregando seu corpo à mãe terra, no cemitério Jardim do Éden, às 15h. Durante o velório, que ocorre na escola indígena Ita-Ara, na Monguba, Pacatuba, destaca-se um painel com a frase dos indígenas Lakota: “Mitakuye Oyasin”, que em Tupi significa “Iandé memé maranongara”, em português traduz-se para “Somos todos parentes”.

Elizeu Sousa.

Jornal O Povo

Jornal Diário do Nordeste