Durante a Conferência Internacional “Saberes para uma Cidadania Planetária”, realizada de 24 a 27 de maio, em Fortaleza, o Movimento Saúde Mental Comunitária (MSMC) contribuiu com sua parceria e com a produção de conhecimento a partir da apresentação da Abordagem Sistêmica Comunitária (ASC). Essa socioterapia foi desenvolvida e é implementada pelo MSMC, sobretudo, no bairro Bom Jardim.

O padre Rino Bonvini, presidente do MSMC, foi um dos 50 conferencistas. No dia 25, em sua fala, destacou a preocupação com a transformação da realidade das populações empobrecidas. De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), quase metade da população mundial vive com até dois dólares por dia. Isso representa aproximadamente 2,8 bilhões de pessoas.

Na periferia de Fortaleza, onde há 20 anos o MSMC desenvolve seu trabalho, Rino destacou o cuidado com aqueles que internalizaram a pobreza extrema. São pessoas que, além dos problemas biológicos, adoecem, também, por não encontrarem saída para problemas existenciais. Entre essas dificuldades, o impacto da falta de habitação, saneamento ambiental, emprego e educação de qualidade.

A Abordagem Sistêmica Comunitária tem resgatando saberes dos povos indígenas e de outras tradições locais e unindo-as ao saber científico. O MSMC procura dar voz e vez às pessoas da própria comunidade com a escuta e a ajuda no desenvolvimento de seus potenciais. A valorização das múltiplas inteligências (cenestésica, musical, artística, etc) é um desses caminhos dessa socioterapia.

Fazendo uma comparação, Rino diz que na “lama”, referindo-se à realidade de exclusão e sofrimento é onde desabrocham “flores”, comparando as saídas encontradas pelas próprias pessoas para melhorarem suas vidas.

São milhares de pessoas que reconstruíram suas vidas com o suporte da socioterapia e a integração na comunidade, proporcionados pelo MSMC. “É uma autopoiese comunitária” em que a pessoa aperfeiçoa as condições de produção de si própria, fortalecendo a autoestima e encontrando novos caminhos.

O MSMC trabalha a sensibilização das pessoas para que se percebam em sua multiplicidade biopsicossocioespiritual e busquem a harmonia. Em um aprofundamento teórico, Rino lembrou a realidade caótica em que vivemos que revela uma “entropia” que pode ser equilibrada com “sintropia”. A sintropia é identificada nas ações integradas que desfazem a desordem. Essas ações são construídas com corresponsabilidade pessoal, familiar e comunitária.

Ele diz que precisamos aprender a comunicação das formigas que com suas “anteninhas” vão criando e transmitindo respostas a problemas que se apresentam em seu caminho. O fenômeno comunicativo desses insetos é chamado “trofolaxe”.

O ato de escutar

O diferencial da abordagem de socioterapia do Movimento é “cuidar de si para cuidar bem do outro”, reflete Rino. Na Abordagem Sistêmica Comunitária o ato de ouvir se amplia para a escuta com o coração. Isso propicia o acolhimento pleno, facilitando no outro a descoberta de seus potenciais e o desenvolvimento da corresponsabilidade para consigo, com o outro, com a natureza e com a vida.

Ao compartilhar a reflexão de encerramento da conferência, no dia 27 de maio, Rino chamou a atenção para a espiritualidade que “sente a dor do outro e que não se cala diante da injustiça”. Diante do momento político em que o Brasil está mergulhado, ele lembrou que a cidadania padece com “a dor do país assaltado por usurpadores golpistas”, referindo-se ao afastamento compulsório da presidenta eleita democraticamente.

Entre os parceiros da conferência estavam, além do MSMC, o Instituto Nordeste Cidadania (INEC), Universidade Federal do Ceará, Universidade Biocêntrica, Escola Vila, Centro de Desenvolvimento Humano (CDH), Aprece, Instituto Saber Cuidar, Instituto Aliança, Fábrica Escola, Banco do Nordeste, CAPES, Estácio FIC, Estação da Luz, Alana, Quality Health Care e Instituto Nacional de Seguro Social.

 

Sobre o Movimento Saúde Mental

Fundado em 1996, o Movimento Saúde Mental atua, entre outras coisas, com grupos de terapia comunitária, embasado pela Abordagem Sistêmica Comunitária, e desenvolve atividades para todas as faixas etárias no bairro Bom Jardim, em Fortaleza e bairros vizinhos.