(Participantes do curso de Doces e Sobremesas Gourmet aprendem sobre boas práticas na cozinha / Foto: Yan Sousa)

 

Espaço de convivência, ensino e terapia. É assim que a Escola de Gastronomia Autossustentável (EGA), do Movimento Saúde Mental (MSM), acolhe os participantes dos cursos do projeto Gastronomia e Terapia: Novos Caminhos para a Geração de Renda e Autoestima. Em 2024, as aulas do projeto tiveram início no dia 01 de abril, atendendo mais de 37 alunos alunos, inscritos nas 4 turmas do projeto:  Doces e Sobremesas Clássicas Gourmet, Pães do Mundo, Chocolatier e Patisserie e Confeitaria Contemporânea. 

 

Yan Alves, confeiteiro e professor do curso de Doces e Sobremesas Clássicas Gourmet, realizado às segundas e terças-feiras, conta que sua história com a confeitaria se parece bastante com a de seus alunos, onde a paixão pela culinária o fez começar a empreender na área e também investir em aprofundar seus conhecimentos através dos estudos. Ele ainda explica a rotina de aulas e ações socioterapêuticas desenvolvidas nas primeiras semanas do curso que ministra. “Eles não apenas aprendem as técnicas e habilidades necessárias para atuar dentro de uma cozinha ou do seu próprio empreendimento, como também aprendem a lidar com as emoções, com o próximo ao seu redor e também a respeitar e ser respeitado”, revela. 

 

O cardápio de guloseimas desenvolvido pelos participantes dos cursos inclui desde sobremesas clássicas mundiais como suspiros, pavlovas, cupcakes, pudins, charlotte, tiramisù e pavê, até os clássicos regionais como cocada, quebra-queixo e doce de caju. Aos 27 anos, o designer gráfico Gabriel Sousa revela que está em transição de carreira e, atualmente, vende brownies e dindin gourmet para juntar uma renda. Ele conta que se inscreveu no curso com o objetivo de conhecer mais sobre o mundo da confeitaria. “Eu já trabalhei na área desde o meu primeiro emprego, no qual eu assava salgados, fazia saladas de frutas, servia no self service, ajudava no preparo dos alimentos. Eu tinha medo de vender comida por conta própria, pois é algo muito sério, mas eu perdi o medo”, explica.  

 

O designer fala ainda sobre sua experiência com o MSM e ressalta a importância do cuidado com saúde mental alinhado à prática gastronômica. “Sou fã. O Movimento Saúde Mental é muito importante para o nosso bairro. Eu sempre digo que o Movimento Saúde Mental deveria ter em todo o Ceará. Precisamos de mais terapia para ter mais paciência, nos conhecer e aprender mais sobre nós mesmos. Na periferia, não temos acesso à terapia, mas o Movimento Saúde Mental conseguiu fazer isso, trazer o cuidado da saúde mental para a favela”, agradece.

 

Ao falar sobre as ações socioterapêuticas realizadas às segundas-feiras, o professor explica que através das vivências em sala e das terapias é possível combater problemas como ansiedade, depressão e alguns transtornos causados por vivência com familiares ou companheiros abusivos. “É um espaço de convivência que através das práticas ministradas pelos professores na cozinha e dos acompanhamentos com os psicólogos faz com que seja possível reverter realidades que muitos alunos trazem à tona em sala de aula”, conta.

 

Participante do programa extensionista Gastronomia Social, da Universidade Federal do Ceará, Yan Alves também confessa que a experiência como facilitador no projeto Gastronomia e Terapia é uma novidade entusiasmante, que o permite acompanhar não só a evolução de seus alunos, como o seu próprio crescimento. “Para o futuro eu espero ver os meus alunos formados e inseridos no mercado de trabalho, seja através de empreendimento próprio ou trabalhando em empresas parceiras do projeto. Acima de tudo, trabalhando corretamente e felizes com o que eles vão exercer”, afirma .

 

O projeto Gastronomia e Terapia é uma realização do Movimento Saúde Mental, com o fomento do Instituto Cooperforte. A realização das aulas recebe o suporte técnico e metodológico da equipe do programa de extensão universitária Gastronomia Social, coordenado pela Profa. Eveline Alencar, sendo uma ação vinculada ao curso de Gastronomia da Universidade Federal do Ceará (UFC). As aulas têm início nesta terça-feira, 02 de abril. Confira abaixo as turmas e horários.

 

SOBRE A ABORDAGEM SISTÊMICA COMUNITÁRIA

 

 A ASC é um sistema socioterapêutico multidisciplinar e de múltiplo impacto, que atua na prevenção do sofrimento psíquico e existencial. Organizada sob três princípios – Autopoiese Comunitária, Trofolaxe Humana e Sintropia -, a Abordagem Sistêmica Comunitária foi reconhecida, em 2009, como tecnologia socioterapêutica efetiva e replicável pela Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social. Já em 2018, a ASC foi considerada uma inovação em Saúde Mental pelo MHIN (Mental Health Innovation Network) – vinculado à Organização Mundial da Saúde. 

 

por Gabriele Félix