Muitas foram e são as vidas marcadas pelas diversas atividades desenvolvidas no Movimento Saúde Mental. Todos os dias, dezenas de pessoas vivem nos espaços do Movimento a dinâmica da acolhida, da escuta e do cuidado. Isso eleva a autoestima, amplia os horizontes, dá novo ânimo, cura!

No caso dos jovens Benício Pitaguary, 26 anos e Renan Dias, 25, essa experiência marcante aconteceu a partir do cursinho pré-vestibular que era realizado no Movimento, por volta de 2013 e 2014. Renan soube por uma reportagem na televisão, Benício, na Casa AME, onde já fazia curso de violão. Os dois jovens atendidos pelo Movimento concluem esse ano a graduação na Universidade Federal do Ceará (UFC).

“Eu conheci pela televisão. Anunciaram que ia ter cursinho pré-vestibular. Eu me surpreendi, porque geralmente era tudo fora do bairro. No mesmo dia eu liguei, confirmei e, na mesma noite, eu comecei a frequentar as aulas”, conta Renan Dias.

“Eu conheci o Movimento quando eu tinha uns 15 para 16 anos, aqui na Casa AME, com o curso de violão. Fiz uns dois anos. Já com 18 anos, e fazendo o ensino médio, comecei a estudar para o vestibular. Fique sabendo que aqui também tinha o cursinho pré-vestibular. Eu me inscrevi, fiz o cursinho e depois comecei a coordenar junto com outras pessoas”, lembra Benício.

Benício Pitaguary está concluindo a graduação em Geografia. Seu trabalho final será sobre pinturas corporais indígenas e como essas pinturas podem ser práticas metodológicas no ensino de Geografia na escola indígena. Renan Dias, da Engenharia Mecânica, prepara uma análise do aumento de potência em aerogeradores com invólucro difusor. Os dois se planejam para o mestrado e querem seguir carreira acadêmica.

O movimento de se reconectar com a ancestralidade

No caso do jovem Pitaguary, a vivência e as experiências no Movimento Saúde Mental o ajudaram a se reaproximar do povo Pitaguary, na Região Metropolitana de Fortaleza, de onde tinha saído ainda criança. Além do cursinho, ele ajudou a coordenar outro projeto, o Juventude Indígena Realizando Sonhos.

“Através do Movimento eu comecei a ir mais a aldeia. Eu vi que tinha a possibilidade de estar mais junto da comunidade. A partir desse envolvimento e das formações em Terapia Comunitária e Abordagem Sistêmica Comunitária eu fui vendo que essas relações ancestrais ajudam bastante na vida, no que queremos fazer enquanto cidadão e enquanto pessoa”, comenta Benício.

Ele fala de como o Movimento contribuiu, consequentemente, para o que ele é e faz hoje.

“Eu vi na Geografia uma maneira de poder ajudar na minha comunidade, dentro do meu povo. A partir do Movimento eu fui construindo tudo que eu faço hoje: sou terapeuta comunitário, sou terapeuta holístico, sou artista plástico em pinturas corporais e em pinturas gráficas indígenas. Sou comunicador indígena. Então acho que tudo isso está ligado de alguma forma ao Movimento porque esse espaço foi me abrindo os olhos e me influenciado bastante em relação à cultura indígena e essas experiências e contatos, com certeza, foram moldando minha vida para sempre como ela é hoje”, enfatiza.

Outros jovens atendidos pelo Movimento que passaram pelo cursinho pré-vestibular na Casa Ame, espaço do Movimento Saúde, também se formaram em universidades públicas. A prática diária de pensar o ser humano com tudo o que lhe torna um ser individual e único a partir da sua realidade, do resgate da autoestima, das suas potencialidades e limitações, devolve à comunidade do Grande Bom Jardim, ainda hoje estigmatizada pela violência, pessoas que fazem do seu território um lugar melhor para viver.

O Povo Pitaguary

Esse povo indígena vive aos pés da serra entre os municípios de Maracanaú e Pacatuba, na Região Metropolitana de Fortaleza. Segundo Benício Pitaguary, estima-se que sejam, hoje, em torno de 4.500 pessoas.

 

Sobre o Movimento Saúde Mental

Fundado em 1996, o Movimento Saúde Mental atua, entre outras coisas, com grupos de terapia comunitária, embasado pela Abordagem Sistêmica Comunitária, e desenvolve atividades para todas as faixas etárias no bairro Bom Jardim, em Fortaleza e bairros vizinhos.