(Alunos dos cursos do projeto Gastronomia e Terapia se reúnem na Palhoça para cuidados com a saúde mental / Foto: Arquivo MSM)

 

Cozinhar é um ato inovador e terapêutico! Ter a oportunidade de preparar o seu próprio alimento com insumos de qualidade e a técnica adequada ainda é um privilégio para poucos. Acolher em um sistema de cuidados terapêuticos e dar oportunidade de formação em gastronomia é um dos objetivos da Escola de Gastronomia Autossustentável (EGA) do Movimento Saúde Mental (MSM). Essas são as aulas do projeto Gastronomia e Terapia: Novos Caminhos para a Geração de Renda e Autoestima. Com duração de 6 meses, o projeto conta com 4 novas turmas para o ano de 2024: Pães do Mundo, Chocolatier,  Patisserie e Confeitaria Contemporânea e Doces e Sobremesas Gourmet.

 

Vladerlan Paixão, gastrônomo e professor do curso Pães do Mundo, realizado às  segundas e quartas-feiras, agradece pela oportunidade de retornar para a sociedade o conhecimento que adquiriu em seus anos de prática e formação. “Está sendo uma experiência incrível poder compartilhar o conhecimento que eu tenho, fazendo com que eles possam reproduzir. Agregar na vida dos alunos é muito gratificante”, explica. 

 

As receitas do curso vão muito além do clássico pão quentinho, incluindo pratos como croissant, pão pita, pão italiano, massas folhadas e massas semi-folhadas. Além dos profissionais altamente qualificados e da boa estrutura das cozinhas, o professor destaca o cuidado com a saúde mental como o principal diferencial do curso. Para ele, a gastronomia é como uma alquimia afetiva, onde os ingredientes se misturam às lembranças, criando um lugar de cura. “ A importância de cuidar da saúde mental dos alunos, nenhum outro lugar oferece esse tipo de serviço. A gastronomia tem essa forte relação afetiva, que nos traz muitas memórias. O cortar, o temperar e o comer do nosso próprio tempero pode ser um forte aliado para combater estresse, ansiedade e outras coisas”, reflete.

 

Sem experiência na área de panificação, Ana Paula Rodrigues é uma das alunas do curso de Pães do Mundo e diz que seu desejo em participar da turma foi impulsionado por amigas que participaram de outros cursos da EGA e conheceram o Movimento Saúde Mental. Elas explicaram sobre as atividades terapêuticas desenvolvidas durante as aulas do projeto e convenceram a dona de casa a fazer a sua inscrição. “Eu dizia para elas que eu tinha muita vontade de aprender e de fazer para vender, mas tinha alguma coisa que me travava, que eu não sabia o que era. Aí ela disse que tinha dado aula nesse lugar [MSM], que era envolvido com terapia, e que seria bem interessante se eu  conseguisse fazer um curso aí”, conta. 

 

Para Ana Paula, os momentos de cuidados durante as aulas são importantes para aliviar o estresse. “Aquele tempinho que a gente tem antes das aulas é bem interessante, porque dá pra gente dar uma desopilada. Para a gente que tem filho, a gente chegar, depois de deixar os filhos, é aquela preocupação. Aí a gente chega, ela [a terapeuta] fala para a gente dar um tempinho para a gente. É bem interessante”, explica. Vítima de um antigo relacionamento abusivo, que a fez perder o rumo de sua vida, a participante revela que as expectativas para o futuro depois do curso são altas. “Eu acredito que depois desse curso eu vou estar realmente sabendo o caminho a seguir. Eu acredito muito nisso. Eu tinha dado uma travada, não conseguia mais fazer nada, parecia que eu nunca tinha feito nada na minha vida. Eu acredito que isso vá mudar, que eu vou conseguir fazer os meus pães para começar a vender e ter uma renda. Já deu certo!”, emociona-se.

 

O projeto Gastronomia e Terapia é uma realização do Movimento Saúde Mental, com o fomento do Instituto Cooperforte. A realização das aulas recebe o suporte técnico e metodológico da equipe do programa de extensão universitária Gastronomia Social, coordenado pela professora Eveline Alencar, sendo uma ação vinculada ao curso de Gastronomia da Universidade Federal do Ceará (UFC). 

 

SOBRE A ABORDAGEM SISTÊMICA COMUNITÁRIA

 

A ASC é um sistema socioterapêutico multidisciplinar e de múltiplo impacto, que atua na prevenção do sofrimento psíquico e existencial. Organizada sob três princípios – Autopoiese Comunitária, Trofolaxe Humana e Sintropia -, a Abordagem Sistêmica Comunitária foi reconhecida, em 2009, como tecnologia socioterapêutica efetiva e replicável pela Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social. Já em 2018, a ASC foi considerada uma inovação em Saúde Mental pelo MHIN (Mental Health Innovation Network) – vinculado à Organização Mundial da Saúde. 

 

por Gabriele Félix