(Expo Favela reuniu empreendedores sociais e investidores no Expo Center Norte, em São Paulo / Foto: Arquivo MSM)

 

 

Entre os becos e vielas das periferias do Brasil, prosperam talentos e ideias brilhantes. Eventos como o Expo Favela Innovation se tornam o cenário ideal para apresentar e valorizar empreendedores que encontram na própria comunidade a força inovadora capaz de sustentar famílias e mudar seus territórios. Afinal, o mundo é um só. E a periferia quer levar sua voz e sua ação ao topo. A organização já anunciou que, em 2024, uma edição do evento será na França.

 

Durante os dias 1, 2 e 3 de dezembro, em São Paulo, o Expo Favela Innovation evocou uma união entre a favela e o asfalto, reunindo empreendedores sociais, artistas e empresários dispostos a investir em ideias e negócios inovadores das periferias de todo o país. Essa é a primeira vez do evento em edição nacional. Ao todo, foram mais de 220 empreendedores de todas as regiões brasileiras, 50 empreendedores internacionais, e mais de 40 palestras. 

 

E, diretamente do Bom Jardim, na periferia de Fortaleza, três lideranças femininas anunciavam seus negócios sociais e apresentavam os sabores, os talentos e a força da cultura cearense no meio da multidão. A visibilidade que convenções como essa propiciam às comunidades periféricas brasileiras foi um dos destaques para Natália Tatanka, CEO do Giardino Buffet. “Acho que o saldo foi, basicamente, a conexão. De várias pessoas, empresas e startups. E, essa visibilidade de estar lá, em São Paulo, fazendo contato com investidores e outras organizações que se inspiram no nosso modelo de negócio”, avalia.

 

Natália Tatanka reconhece ainda a importância dos vínculos criados e fortalecidos durante o evento. “Eram mais de 200 negócios de todo o Brasil, de todos os estados, então a gente pôde fazer várias parcerias. Ter as meninas do Bom Jardim também foi importante, porque acaba fortalecendo esse coletivo de trabalho. É a mesma comunidade, o Grande Bom Jardim. A gente impacta nessa comunidade direta ou indiretamente”, reflete.

 

Para Janaína Fernandes, coordenadora geral do Colcha de Retalhos, o Expo Favela é uma vitrine que mostra como os empreendimentos que nascem nas periferias das cidades também fortalecem a economia do país. “Como é bom alguém olhar para o nosso trabalho e dizer que estamos no caminho certo. Quando nós passamos numa seleção dessas e atingimos um nível nacional, é sinal de que estamos fazendo a coisa certa em nossas comunidades”, explica emocionada. 

 

A coordenadora também agradece pelas experiências oportunizadas durante o evento. “Nós voltamos maiores do que nós fomos e vamos usufruir de tudo isso da melhor forma”, conta. Para ela, o Expo Favela foi uma virada de chave para seu negócio. “É uma experiência única. O Colcha depois do Expo Favela é mais forte, mais preparado, mais visionário. Nós iremos devolver tudo isso às nossas mulheres empreendedoras com mais eficiência, visão e desenvoltura. É isso que nós queremos, que nós pensamos. É por isso que nós lutamos e é nisso que nós acreditamos”, explica. 

 

Ela também agradece à parceria com o Movimento Saúde Mental. “É um Movimento feito de pessoas para pessoas. E isso é a nossa trajetória. Os nossos projetos são de pessoas que acreditam em pessoas. Ele tem nos ajudado e nos apoiado nesse acolhimento, que é de extrema importância. Eu quero deixar aqui toda a minha gratidão”, conta. Janaína Fernandes também reforça a importância da representatividade feminina cearense na edição 2023. “Ter duas representantes do Movimento Saúde Mental e, ao todo, no estado do Ceará, 6 mulheres, onde 4 foram do Bom Jardim, isso mostra que o empreendedorismo feminino tem lugar, espaço, e deve ser ocupado”, comenta.

 

Fabiana Lima, do Ateliê Arretado, negócio também do Bom Jardim, fala da experiência como participante das atividades terapêuticas do Movimento Saúde Mental. “O período que vivi de terapia na Palhoça, quando criança, me trouxe benefícios que até hoje eu percebo. Desenvolvi muita comunicação, interação com as pessoas, empatia, autonomia sob muitos aspectos e também aprendi a lidar com momentos difíceis. Sabia que estava em um ambiente seguro e acolhedor”, conta.

 

Para a empreendedora, a oportunidade de expor seu trabalho em um evento como o Expo Favela é uma chance de mostrar a resistência dos territórios periféricos. “Representar o Ceará, está expondo o meu trabalho, significa muito mais que toda a visibilidade que o Expo Favela traz, veio mostrar que eu também posso mudar o mundo. Pois, diante de tantas dificuldades e olhares negativos sobre nós, vencemos a cada dia, mostramos para que viemos e conquistamos o lugar no palco que, por direito, é nosso”, reflete.

 

No final, o recado da periferia é um só: existimos e somos potência.

por Gabriele Félix