(Arco e Flecha é uma das modalidades em que as crianças e adolescentes do SAV participam nos Jogos Indígenas / Foto: Luana Santos)

 

Manter acesa a chama da cultura e tradição dos povos originários. Essa é a missão da 1ª edição dos Jogos Indígenas Infantojuvenil do povo Pitaguary, a ser realizado pela primeira vez no dia 19 de abril de 2024, nos campos da Mangueira Sagrada e também nos espaços que sediam o Sim à Vida (SAV), em Maracanaú. Nacionalmente, a data é simbólica por celebrar o Dia dos Povos Indígenas no país. O evento multiesportivo reúne crianças e adolescentes para prática de diversas modalidades tradicionais, entre elas: arco e flecha, corrida de tora, cabo de guerra, lança, baladeira, futebol e triatlo. 

 

Os participantes dos núcleos do Sim à Vida em Maracanaú intensificaram a rotina de treinos para se preparar para o campeonato. Luana Santos, coordenadora do Sim à Vida Maracanaú, explica como funciona a mentoria para a nova geração de atletas, que atualmente pratica 3 vezes da semana. O evento conta também com a conexão entre culturas como parte da experiência. “Um dos treinadores foi o atleta Samuel Weberty, indigena Tremembé que ensinou habilidades e técnicas dos jogos às crianças”, explica a coordenadora.

 

Além de transmitir conhecimento e exercer um papel fundamental no desenvolvimento biopsicosocioespiritual de crianças e adolescentes, a prática esportiva é uma das maneiras de difundir as tradições dos povos originários e de congregar valores culturais importantes para a criação da memória de um povo. Historicamente, os jogos indígenas estão associados à formação de guerreiros,  rituais sagrados, histórias infantis e também passatempo. “É a oportunidade  de potencializar suas habilidades  enquanto crianças e adolescentes, tendo um ensinamento aprofundado sobre sua cultura, sobre a importância  dos jogos, além da oportunidade  de participar  desse momento  histórico enquanto criança”, enfatiza a coordenadora.

 

No território Pitaguary, no Ceará, a primeira edição dos Jogos Indígenas Infantojuvenil foi idealizada e articulada por lideranças indígenas, entre elas: cacique Madalena, cacique Kauã  Pitaguary, Nazaré  Pitaguary, Neto Pitaguary, Mara Araújo e Luana Santos, atleta dos jogos indígenas e coordenadora do Sim à Vida Maracanaú. Para muitas crianças do território, o primeiro contato com os jogos indígenas aconteceu na prática das atividades do próprio SAV. Semanalmente, desde 2023, os participantes do projeto desenvolvem técnicas e habilidades nos esportes, fortalecendo a conexão com sua ancestralidade. 

 

A cultura indígena é a base para o desenvolvimento das atividades com as crianças e adolescentes Pitaguary, nos núcleos do SAV em Maracanaú. O projeto acolhe crianças e adolescentes de 5 a 14 anos, com cadastro NIS. Os beneficiários habitam áreas de vulnerabilidade social de Fortaleza e Maracanaú. São crianças e adolescentes de famílias vulnerabilizadas pela extrema pobreza. No município, o projeto Sim à Vida é realizado em cogestão com a Secretaria de Assistência Social e Cidadania da Prefeitura de Maracanaú, com apoio do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) do Governo Federal. 

 

Orientado pela Abordagem Sistêmica Comunitária (ASC), tecnologia socioterapêutica multidisciplinar e de múltiplo impacto que ajuda na superação da síndrome da colonialidade internalizada, o projeto Sim à Vida atua como uma ferramenta para o fortalecimento e a conexão das novas gerações do povo Pitaguary com a sua cultura e ancestralidade

 

GALERIA DE FOTOS

 

SOBRE A ABORDAGEM SISTÊMICA COMUNITÁRIA

A ASC é um sistema socioterapêutico multidisciplinar e de múltiplo impacto, que atua na prevenção do sofrimento psíquico e existencial. Organizada sob três princípios – Autopoiese Comunitária, Trofolaxe Humana e Sintropia -, a Abordagem Sistêmica Comunitária foi reconhecida, em 2009, como tecnologia socioterapêutica efetiva e replicável pela Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social. Já em 2018, a ASC foi considerada uma inovação em Saúde Mental pelo MHIN (Mental Health Innovation Network) – vinculado à Organização Mundial da Saúde. 

 

Redação por Gabriele Félix