O superintendente da Receita Federal, João Batista Barros, e outros 14 profissionais visitaram a Escola de Gastronomia Autossustentável (EGA) do Movimento Saúde Mental Comunitária do Bom Jardim (MSMC). A escola foi construída com recursos obtidos a partir da venda de mercadorias apreendidas pela Receita Federal.

“É um projeto transformador das pessoas e também da comunidade, em última análise, até da realidade de Fortaleza e do Ceará, na medida em que é inspiração para outras políticas públicas que podem ser desenvolvidas, seja pelo Estado, seja pela coletividade, na mesma direção de transformar a vida das pessoas”, comentou Batista em visita a EGA.

O superintendente também comentou que a Receita se orgulha muito de ver essa iniciativa no do Bom Jardim. “Ela nos transforma, por isso a gente traz colegas aqui, inclusive muitos que fazem parte da aduana brasileira, aquela parte da Receita Federal que lida com o comércio exterior, que lida com a apreensão de mercadorias, muitas vezes”, relatou.

“Porque a agente vê mais significado naquilo que a gente faz. Toda vez que a gente apreende uma mercadoria, a gente nem sempre apreende isso com enorme prazer, não! Às vezes, a gente percebe do outro lado que ela causa dor a alguém, mas ao mesmo tempo, toda vez que a gente faz essa transformação pra cá, a gente transforma o ilícito em algo legítimo e transformador da sociedade”, disse João Batista em partilha com as alunas da Escola de Gastronomia.

“Essa é a grande alegria que nos une hoje aqui nesse projeto, desejando que ele seja um projeto sustentável, um projeto crescente, um projeto que transforma cada vez mais a vida das pessoas e da comunidade”, concluiu o superintende ao término da visita.

Vidas transformadas pela gastronomia

“A escola de gastronomia abriu meus conhecimentos, daí o meu plano é abrir um negócio na minha casa, ser autônoma”, comentou a dona de casa, Aliane Vasconcelos. Ela mora no bairro Bom Jardim. Fala que depois de ter feito o curso de gastronomia de rua, as pessoas dizem que também querem ter essa experiência de conhecimento. “Vou botar pra fora, pros meus amigos, meus familiares, o que eu aprendi no curso”, enfatiza.

Telma Carvalho, estudante de Gastronomia da UFC, diz que os cursos da Escola acolhem “pessoas que estavam ociosas, que estavam precisando de um alento também, não só buscando um trabalho”. Ela destaca que se realiza dando aulas para pessoas que também estão procurando atenção, procurando se sentir capaz. “Eu me encantei com esse projeto. Ele realmente me transformou, assim como transformou a vida de muita gente. Eu sei que esse é o meu caminho. Eu gosto de dar aula. Eu me sinto importante como pessoa, eu me sinto capaz. Eu posso partilhar o que eu sei, ajudar a outras pessoas”, partilha a estudante.

“Desde criança que eu tenho um profundo amor pela arte culinária. Aqui no curso aprendi receitas de sabores e afetos, porque além das receitas, técnicas de manipulação de alimento, de preparações, eu fiz muitos amigos e descobri que aqui a gente não aprende só ferramentas pra se inserir nesse contexto da área de trabalho da culinária e da gastronomia. Aqui tive lições que forjaram, que aumentaram a minha autoestima”, comenta a dona de casa Magalhi Gouveia.

“Eu descobri que sou capaz de muito mais do que eu podia imaginar, isso me dá um orgulho imenso. Entrei aqui aprendiz e saí mestra da minha própria vida! Eu descobri o meu caminho e agora eu estou pensando em entrar pra sala de aula, vou fazer o ENEM e quem sabe, qualquer dia desses no futuro, você entreviste uma pessoa graduada em gastronomia. Às vezes, só falta um empurrãozinho… Mas aqui foi um ‘empurrãozão’ porque a gente descobriu o nosso lugar no mundo”, enfatiza Magalhi.

Após fazer vários cursos na Escola de Gastronomia Autossustentável, Renata Ferreira já montou seu próprio negócio. “Este é um projeto muito rico, os alunos da Gastronomia da UFC são professores excelentes com conhecimento não só teóricos, mas práticos de diversos patamares da gastronomia, do básico ao avançado e é maravilhoso”, partilha Renata.

Na ocasião, Renata apresentou a lasanha Mamma Mia, uma receita de Clemenza Martini, mãe do padre Rino Bonvini. Cada um dos visitantes recebeu uma lasanha congelada como cortesia da Escola.

A professora Eveline Alencar, coordenadora do Programa Gastronomia Social da Universidade Federal do Ceará (UFC), incluiu a Escola de Gastronomia Autossustentável do MSMC como projeto de extensão da Universidade. “Realmente é transformador o que esse equipamento fez. Não só na comunidade, porque a gente tem alunos de Fortaleza inteira. Mas nós temos o sonho, um projeto já desenhado. A primeira etapa é essa escola, mobiliada, equipada e a segunda etapa é uma cafeteria-escola, na parte da frente do prédio”, diz Eveline.

Durante a visita da Receita Federal, padre Rino também apresentou o Projeto Sim à Vida, de prevenção às dependências químicas, realizado com 450 crianças e adolescentes de 7 a 14 anos. Em seguida, mostrou aos visitantes a Palhoça, os espaços dedicados as socioterapias e o Centro de Atenção Psicossocial, integrado pela Prefeitura de Fortaleza ao sistema socioterapêutico do MSMC.

Todo o serviço do Movimento Saúde Mental Comunitária é guiado pela metodologia da Abordagem Sistêmica Comunitária. Nela, as pessoas e a comunidade são estimuladas a realizar uma autopoiese, ou seja, produzir soluções para seus problemas de forma integrada e continuada, sendo protagonistas do seu próprio sucesso. Isso começa com a elevação da autoestima, sempre em busca do equilíbrio biopsicossocioespiritual.

No primeiro semestre de 2018, os cursos oferecidos MSMC, na Escola de Gastronomia Autossustentável, contaram com a parceria da Gastronomia Social da UFC e do Centro Cultural do Bom Jardim.

 

Sobre o Movimento Saúde Mental

Fundado em 1996, o Movimento Saúde Mental atua, entre outras coisas, com grupos de terapia comunitária, embasado pela Abordagem Sistêmica Comunitária, e desenvolve atividades para todas as faixas etárias no bairro Bom Jardim, em Fortaleza e bairros vizinhos.