Por Elizeu Sousa – 

A psicóloga e psicoterapeuta Laetitia De Schoutheete visita o Movimento Saúde Mental (MSM) após 24 anos. Em 1998, ela realizou serviços terapêuticos na Palhoça do Movimento por seis meses. A seguir, ela comenta como aprendeu e como aplicou a abordagem do MSM na África e na Indonésia.

Nesta terça-feira, 11/01/22, Laetitia conversou comigo e foi fotografada por Lan Yago, na palhoça terapêutica do MSM, após participar de uma roda de terapia.

Laetitia é belga e mora em Crest, na França. Lá, ela realiza treinamentos em TAT (Tapas Accupressure Técnica) para terapeutas, desenvolvendo um Círculo de Habilidades, que ajuda a lidar com situações complexas. Laetitia trabalha com a terapia EMDR.

Nos seis meses em que trabalhou na Palhoça, Laetitia vinha três dias por semana. Naquele tempo, estava nascendo a Abordagem Sistêmica Comunitária. “Eram 60 a 70 pessoas, muita gente”, comenta Laetitia sobre as rodas de terapia.

Ela também trabalhou no acolhimento de grupos de mulheres que haviam sofrido abusos. “Eu aprendi muito com o grupo [de autoestima] e com a Terapia Comunitária”, destaca. “O trabalho que aprendi aqui do Brasil, com o padre Rino Bonvini, me ajudou muito lá em Ruanda.” Lá ela trabalhou com as comunidades Tutsis, vítimas do genocídio, após 1994.

Quando fazia parte da organização Médicos Sem Fronteiras, Laetitia trabalhou como psicóloga em Ruanda, na África, cuidando dos sobreviventes do genocídio. Em Ruanda, junto aos sobreviventes Tutsis, ela organizava terapias de grupo seguindo o modelo da Abordagem Sistêmica Comunitária.

“Eu levei tudo o que eu aprendi aqui, não só o trabalho em grupo, como também o trabalho com o corpo. Quando eu estava estudando na Europa, o trabalho com o corpo não tinha nada que ver… Então desenvolvi o trabalho com o corpo, com a respiração, com a meditação”, destaca Laetitia.

Na África, ela trabalhou com Simon Gasibirege, que estimula o protagonismo da comunidade, com perspectiva parecida com a Abordagem Sistêmica Comunitária. Laetitia também trabalhou com a rede da Cruz Vermelha internacional.

“Na África e na Indonésia, antes de realizar alguma coisa a gente rezava, pois o suporte espiritual é muito importante”. Ela concorda com a importância do equilíbrio biopsicosocioespiritual trabalhado no MSM.

Ela diz que o principal motivo de vir ao Brasil foi encontrar os amigos como o padre Rino, a Fatinha Albuquerque, a Ana Paula, a Zilar, dos primeiros tempos. Foi também a oportunidade de se atualizar sobre as práticas integrativas realizadas aqui, “porque as pessoas na Europa estão muito interessadas no trabalho com a saúde comunitária muito integrativa, especialmente após aa covid-19”.

Elizeu Sousa, Ana Paula, Laetitia e Zilar Amaro

Ela ficou encantada ao saber que foi produzido um vídeo contando a trajetória de superação e transformação da vida de Zilar Amaro, o vídeo ‘Vida Sã’.

Também por perceber como o serviço do MSM cresceu. “O projeto está muito mais grande, com gastronomia, com jovens fazendo programa de computador. Vou levar tudo isso na bagagem.

Sobre uma nova cartilha de Abordagem Sistêmica Comunitária, de que falei para ela, respondeu que poderá nos ajudar na tradução para o francês. “Faz 25 anos que vejo aqui o empenho das pessoas pra ajudar a comunidade. Gosto muito dessa ideia da corresponsabilidade, da solução do problema na comunidade… Eu estava no início de tudo isso!”, comemora.

O primeiro contato dela com o Brasil, se deu por meio de um livro do professor Adalberto Barreto. Após isso, ela morou com Fatinha Albuquerque, que era professora de massoterapia no Projeto 4 Varas.