Avanço da pobreza na pandemia compromete saúde mental: ‘posso morrer com uma bala ou de fome’

Escrito por Thatiany Nascimento e Lucas Falconery, metro@svm.com.br 07:00 / 10 de Outubro de 2021. Atualizado às 09:31 / 10 de Outubro de 2021

Ceará tem 5,1 milhões de residentes em situação de pobreza e extrema pobreza; cenário agrava transtornos mentais

Más condições de moradia, desemprego, violência, falta de dinheiro, vulnerabilidades. Como manter-se sadio mentalmente diante de condições tão adversas? Se a vida de quem padece com a miséria e as desigualdades já era complicada, na pandemia de Covid-19, foi drasticamente mais afetada.

No Dia Internacional da Saúde Mental, o Diário do Nordeste discute a relação entre vulnerabilidade social e o sofrimento psíquico, na realidade cearense, na qual 3,1 milhões de pessoas, segundo registros do Cadastro Único, mecanismo do Governo Federal, ainda sobrevivem com renda de até R$ 89,00 por mês.

No Estado, até junho de 2021, conforme os dados mais atualizados disponíveis pelo Ministério da Cidadania, 5,1 milhões de residentes do Ceará estavam em situação de pobreza e extrema pobreza, inseridos em famílias cuja renda varia de meio salário mínimo por pessoa até 3 salários mínimos de renda mensal total.

 

CRISES FAMILIARES
Em meio ao aumento do desemprego e do custo da alimentação, há maior número de pessoas com fome, em situação de insegurança e desespero. A percepção é do padre Rino, também médico psiquiatra, e dedicado à promoção da saúde mental em projetos espalhados pela cidade. “Se calcula que, no Ceará, quadruplicou o número de pessoas que manifestaram sintomas psiquiátricos. Dos mais simples, como ansiedade e insonia, àqueles médios como sintomas depressivos até aos mais graves como auto agressão e o suicídio”.

Casas de famílias em situação de vulnerabilidade social são mostras do cenário desolador observado na pandemia, como observa o padre. “Aumentou o uso de drogas lícitas e ilícitas, de famílias desestruturadas por causa da precariedade e isso também gera problemas de saúde mental. Quanto mais uma pessoa fica isolada, abandonada e sem perspectiva, obviamente adoece”, conclui.

Os projetos na periferia de Fortaleza, como o Grande Bom Jardim, utilizam a abordagem sistêmica comunitária e a formação profissional dos beneficiários. “É importante garantir que o espaço seja de acolhimento e ter o cuidado para que a pessoa possa transformar aquela crise em uma oportunidade de mudança”, destaca o padre.

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