Deus menino
O padre Rino Bonvini abriu a celebração de Natal do Movimento Saúde Mental, neste 23/12, na Palhoça Terapêutica, recordando que Deus veio ao nosso mundo na forma de um menino… Desprotegido, frágil. Para ser acolhido, escutado e cuidado. Assim é também a realidade de muitos que são abraçados pela Abordagem Sistêmica Comunitária.
Realidade de exclusão.
Muitos de nós, crianças e adultos, fragilizados diante da realidade de exclusão, de fome, de desemprego, de descaminhos na vida, de adoecimento, encontramos ali a força para seguir. Padre Rino, numa missa ecumênica, destacou a realidade do Brasil de retorno da fome, do desemprego, da inflação e do desmonte das conquistas sociais, da negação de direitos. Do descaso federal com a vacina para a Covid19, que contribui para mais 618 mil mortos, grande parte evitável.
Ali, após o padre falar, ressoou uma voz baixinha de uma mulher: “Fora Bolsonaro!”
Sim à Vida!
Na missa, que teve a participação do diácono Francisco Fernandes de Almeida e a presença de indígenas Pitaguary, as crianças do Programa Sim à Vida, do MSM, treinadas pela arte educadora Luzy Coelho, encenaram um presépio vivo! Diferente. Uma criança interpretou a estrela guia, que dançava…
As luzes foram apagadas e se ouviu o grito de uma criança, que nascia! Um José e uma Maria que acolheram dois reis magos e uma rainha, simbolizando índios, negros e a diversidade de etnias, de opções sexuais, de gênero… anunciando um mundo novo em que todos são aceitos.
Partilha ecumênica
O indígena Benício Pitaguary refletiu sobre o massacre dos nativos do Brasil, iniciado em 1500 com a participação da “liturgia” católica. Vale lembrar que Benício trilhou o caminho da Abordagem Sistêmica Comunitária, foi acolhido na preparação para o vestibular do Movimento. Depois, foi coordenou daquele cursinho pré-vestibular. Graduou-se. Faz mestrado. Tornou-se referência para outros jovens indígenas. Viajou por outros países… É cidadão do mundo!
Neto Pitaguary, protagonista da saúde indígena, que também foi acompanhado pelo Movimento Saúde Mental desde menino, destacou que há grupos na própria igreja que negam o papa Francisco. O papa está apontando o caminho do cuidado da mãe terra, da mata, dos animais, das criaturas sagradas. Neto criticou a destruição da natureza, o desmatamento que dá lugar ao desenvolvimento, que não tem nada de sustentável. Hoje, Neto é referência nacional junto a povos indígenas.
O diácono Fernandes falou da necessidade de se incluir negros, índios e pessoas de diferentes orientações sexuais. Falou daqueles que vieram antes de nós, há muitas gerações, de uma genealogia que a Bíblia traz até Jesus. Ele refletiu que o índio com seu cocar deve ser aceito em qualquer templo católico. Que não pode haver distinção.
Na partilha de falas da celebração, uma mulher, do Movimento Hare Krishna, trouxe a reflexão sobre o respeito a cada ser vivente, pois a energia de Deus se manifesta em cada criatura. Destacou que a teologia da libertação foi, na prática, sua primeira formação espiritual… Agradeceu a oportunidade de poder partilhar em uma missa ecumênica.
Ao término, crianças do Programa Sim à Vida do Marrocos e Santo Amaro, ecoaram em suas flautas a canção noite feliz. Elas foram treinadas pelo músico Felipe Ricardo Santos da Silva e ali, regidas pelo maestro Elismário dos Santos Pereira.
Padre Rino também enfatizou que a fé cristã vai além das preces e rezas, se manifesta na ação, principalmente no serviço aos oprimidos, num serviço de libertação. Ao término, convidou todos para a grande ceia de Natal, ali mesmo, na rua Dr. Fernando Augusto, diante da Palhoça e da Escola de Gastronomia Autossustentável do MSM, onde foram servidas 500 refeições.
A missa teve a participação dos pacientes da Residência Terapêutica, da cantora Elihane Brasileiro e de profissionais e colaboradores do MSM. Foi organizada por Daniela Sampaio. Reuniu moradores de comunidades do Bom Jardim, usuários e amigos do Movimento Saúde Mental Comunitária.