A Organização Mundial de Saúde (OMS) alertou ano passado que, até 2020, a depressão será a principal doença que incapacitará em todo o mundo. Os dados da OMS falam de 300 milhões de pessoas que têm esse transtorno mental. No Brasil, quase 6% da população, ou 11,5 milhões de pessoas, sofrem de depressão.

Segundo a OMS, metade de todas as condições de saúde mental começa aos 14 anos de idade, mas a maioria dos casos não é detectada nem tratada. A depressão pode levar ao suicídio. São aproximadamente 800 mil casos todos os anos. Entre os jovens de 15 a 29 anos, essa é a segunda principal causa de morte.

Ainda carregados de estigmas, os sofrimentos psíquicos foram, ao longo da história, tratados de forma cruel e desumana. Há 30 anos, com a Reforma Psiquiátrica e a criação da Lei 10.216/2001º, o Brasil começou a gestar uma transformação nesse aspecto da saúde mental e instituir politicas públicas efetivas de inclusão.

Espaços como os antigos manicômios, que funcionavam como cárceres sanitários, aos poucos deram lugar a experiências mais humanizadas de convívio social, como as Residências Terapêuticas (casas que visam a ressocialização de pessoas com sofrimentos psíquicos e readaptação a vida comunitária). Foi criada, ainda, a Rede de Atenção Psicossocial com a atuação dos Centros de Atenção Psicossocial (Caps).

Acolher, escutar e cuidar para gerar vida

Com o crescimento progressivo dos distúrbios psíquicos originados por fatores genéticos, sociais (desemprego) e ambientais (poluição, más condições de alimentação, e outros) e com os riscos de retrocesso em relação à Luta Antimanicomial, essas doenças têm feito cada vez mais vitimas. Como lidar com essa problemática de saúde pública?

Desde 1996, o Movimento Saúde Mental aposta em formas de tratamento alternativas para lidar com essas doenças. Fincado no chão do Bom Jardim, bairro da periferia de Fortaleza, no Ceará, marcado pelo histórico de violência, medo e ausência do poder público, a instituição criou tecnologia social própria, a Abordagem Sistêmica Comunitária, para acolher, escutar e cuidar das pessoas.

“Transformar socialmente a comunidade para o empoderamento e a garantia de direitos. Nessa perspectiva, a acolhida é incondicional a todas as pessoas”, lembra o pe. Rino Bonvini, fundador da instituição.

“Eu me encontrava em uma forte depressão. Tinha crise de pânico, medo de tudo e só chorava. No Movimento me acolheram e me escutaram com muita atenção! Assim como eu, outras pessoas superaram a depressão, a ansiedade o medo, por meio da acolhida”, comenta Ângela Rodrigues. Ela foi acolhida no Movimento, participou dos grupos de terapia comunitária, superou a depressão e hoje é colaboradora na instituição.

“As pessoas chegam algumas vezes tristes, ansiosas e depressivas, em busca de acolhimento, muitas das vezes em busca de um simples abraço”, comenta Francimeire França, arteeducadora na Palhoça, espaço onde acontecem as Práticas Integrativas Complementares (Pics). As práticas utilizam recursos terapêuticos diversos baseados em conhecimentos tradicionais. O Movimento oferece aos pacientes encaminhados pelo Caps e a toda comunidade, a experiência nos grupos terapêuticos, massagem, reiki, yoga, arteterapia, entre outros.

“As Práticas Integrativas e Complementares em Saúde propiciam o cuidado de forma integral. Promovendo espaços de escuta acolhedora, possibilitando a formação do vínculo terapêutico e estimulando a inserção do ser que está sendo cuidado com o meio em que vive” explica Carine Franco, coordenadora da Palhoça.

O encontro, o grupo, enxergar cada pessoa com sua individualidade fazendo-a perceber que ela é formada por todo o meio que a cerca. Em meio a crise da existência, da cultura do descarte que afeta as pessoas como se fossem coisas, há vida sendo cuidada e valorizada no Bom Jardim somada a outras várias experiências que precisam, com urgência, se espalhar por todos os cantos desse do Brasil.

Fonte: Revista Reconexão Periferia

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Thiago Silveira
Jornalista no Movimento Saúde Mental