Nesta sexta, 14 de junho, 30 novos padeiros e confeiteiros foram formados na Escola de Gastronomia Autossustentável (EGA) do Movimento Saúde Mental Comunitária (MSMC). Uma parceria com o Programa de Gastronomia Social da Universidade Federal do Ceará e Centro Cultural do Bom Jardim.

As 80h aula, distribuídas em duas turmas, panificação e confeitaria, foram conduzidas pelos professores do Projeto Gastronomia Social, alunos do Curso de Gastronomia da UFC. O projeto é coordenado pela professora Eveline Alencar.

As aulas para os novos padeiros foram ministradas por Regiane Rabelo, Léo Sousa, Ilana das Neves, Vanessa Noronha, Leandro Restrepo, Cleyton Vieira, Leandro Camarro, Andressa Mendes, Louise Anny Moura, Lucas Braga e Juliana Sousa.

Entre os novos padeiros está Iramar Alves, que já tem um negócio próprio. Ela vende salgados em uma bicicleta, o negócio é chamado Food Bike. Também participaram dos cursos da EGA a padeira Eliene Silva , que produz pães caseiros, incluindo os integrais; e Renata Oliveira, que já montou um negócio de gastronomia em sua casa, no Bom Jardim.

Outra cozinheira qualificada na Escola de Gastronomia do MSMC é Rosiane Araújo, que é merendeira do projeto Sim à Vida. Esse projeto acolhe 240 crianças em quatro diferentes comunidades de Fortaleza e de Maracanaú.

Escola de gastronomia transforma realidade e é contraponto à violência no Bom Jardim

As conexões feitas e refeitas a partir de uma escola de gastronomia, no Bom Jardim, entre as pessoas e o lugar onde moram.

É possível que os lugares, e não somente as pessoas, tenham sonhos. A Escola de Gastronomia Autossustentável, por exemplo, “era um sonho” do Movimento de Saúde Mental Comunitária (MSMC) do Bom Jardim, expõe o jornalista Eliseu Souza, relações públicas do programa Sim à Vida do MSMC. Aquele lugar, marcado por um Índice de Desenvolvimento Humano “muito baixo”, de 0,19 (em uma escala de 0,0 a 1,0, segundo o Anuário do Ceará 2017-2018, com dados do IBGE), desejava ser sustentável, contrapõe Eliseu: “Se a utopia está na minha frente, eu vou caminhar na direção dela. E começamos a materializar um pouco”.

A Escola de Gastronomia, inaugurada em dezembro de 2016, a cinco ruas de onde se ouve dizer que pessoas são decapitadas pela justiça das facções, tem retratado o outro lado do Bom Jardim. “É uma estrutura de desenvolvimento local integrada. É uma ilha de atração e desenvolvimento para a região”, afirma Eliseu Souza.

O projeto já começou transformando a velha casa da rua Dr. Fernando Augusto, 980. Antes, era um quintal de uma horta comunitária, mantida pelo MSMC, para a produção de ervas medicinais; e também funcionava um pequeno espaço de cultura. A Escola de Gastronomia foi, então, montada a partir de recursos gerados por dois bazares de produtos interceptados pela Receita Federal. Parte do quintal “foi convertido em Escola”, reconstitui o relações públicas do MSMC, e, hoje, a casa, renovada, ganhou ainda um auditório.

Uma parceria com o Programa de Gastronomia Social (do curso de Gastronomia da Universidade Federal do Ceará/UFC) e com o Centro Cultural Grande Bom Jardim (ligado ao Instituto Dragão do Mar), além de doações da iniciativa privada, soma o imaterial e o material necessários ao funcionamento dos cursos gratuitos. As aulas são ministradas por estudantes do último semestre da Gastronomia da UFC. Chocolateria, panificação e produção de massas são alguns dos cursos ofertados. Mais de 150 pessoas já foram formadas pela Escola, destaca Eliseu Souza.

O perfil dos alunos é, majoritariamente, de mulheres da comunidade que querem investir em um negócio próprio, aponta o jornalista. “Quanto mais pobres, melhor. Mas as pessoas têm que vir e se interessar. Também já tivemos pessoas em tratamento no Capes (Centro de Atenção Psicossocial) comunitário”, inclui. “Para nós, é importante porque elas se reconectam umas com as outras e podem repensar como trabalhar a sua vida”, completa.

Muitas conexões são feitas e refeitas a partir da Escola de Gastronomia Autossustentável, entre as pessoas e também com o lugar onde moram. O projeto, que traça uma profissionalização, possibilita a redescoberta de capacidades ao mesmo tempo em que torna coletivos os sonhos individuais. Assim, é um meio de afastar a violência tão próxima, consideram os envolvidos.

“As pessoas ganham mais confiança, fortalece sua autoestima, melhora a condição familiar que, normalmente, é muito problemática”, equilibra Eliseu Souza, também mestre em Políticas Públicas. A desestruturação humana torna qualquer comunidade refém de fragilidades. “Então, quando a gente pensa escola de gastronomia, pensa desenvolvimento da pessoa, da família e da comunidade”, conclui.

Ana Mary C. Cavalcante, Jornal O Povo

 

Sobre o Movimento Saúde Mental 

Fundado em 1996, o Movimento Saúde Mental atua, entre outras coisas, com grupos de terapia comunitária, embasado pela Abordagem Sistêmica Comunitária, e desenvolve atividades para todas as faixas etárias no bairro Bom Jardim, em Fortaleza e bairros vizinhos.