(Participantes do Sim à Vida participam de atividades culturais e socioterapêuticas durante Semana dos Povos Indígenas / Foto: Gabriele Félix)

 

Para celebrar a Semana dos Povos Indígenas, data nacionalmente comemorada no dia 19 de abril, crianças, adolescentes e familiares dos participantes do projeto Sim à Vida (SAV) realizaram uma série de atividades sociais e terapêuticas. Além das tradições e rituais sagrados, a programação contou ainda com o atendimento do Caminhão do Cidadão, realizado no dia 19 de abril, na comunidade de Santo Antônio do Pitaguary. Durante o evento, foram ofertados diversos serviços gratuitos para a emissão e a atualização de documentos, atendimento médico, vacinação, além de atividades artísticas e socioterapêuticas.

 

Ainda na terça-feira, 16 de abril, crianças e adolescentes dos três núcleos do Sim à Vida em Maracanaú, no território Pitaguary, participaram da contação de histórias na Mangueira Sagrada, do banho de rio e do ritual do toré. Todas essas atividades fazem parte de um conjunto de práticas da Abordagem Sistêmica Comunitária (ASC), que estimula a superação da Síndrome da Colonialidade Internalizada e o fortalecimento das relações dos povos originários com a sua ancestralidade. A trilha faz parte das ações desenvolvidas 

 

A semana também contou com a realização do I Jogos Indígenas Infantojuvenil do povo Pitaguary, realizados na Escola Indígena Chuí. Além de transmitir conhecimento e exercer um papel fundamental no desenvolvimento biopsicosocioespiritual de crianças e adolescentes, a prática esportiva é uma das maneiras de difundir as tradições dos povos originários e de congregar valores culturais importantes para a criação da memória de um povo. 

 

A programação artística e cultural recebeu a mostra “Somos Todos Parentes – Benício Pitaguary”. A exposição, que reúne 15 obras recriadas pela Juventude Indígena Pitaguary mostra como o guerreiro da cultura, Benício Pitaguary, por meio do grafismo e das pinturas corporais indígenas, disse ao mundo que a arte indígena é também uma poderosa lança na luta e na resistência dos povos originários. A mostra conta com a curadoria coletiva de Ana Clécia Pitaguary, Antonia Kanindé, Madson Pitaguary, Philip Bandeira, Rachel Medina, Rosa Pitaguary e Thalia Pitaguary.

 

Beatriz Brasil, estudante indígena Pitaguary da Escola Chuí e participante do Sim à Vida do núcleo Olho D’água, revela que seu sonho é ser maquiadora profissional, explicando que sua atividade preferida dentro do projeto SAV é o grafismo. “É muito legal expressar as pinturas e eu gosto muito de desenhar também”, revela. Ela foi uma das estudantes a se apresentar no grupo de dança indígenas do colégio durante o evento. Beatriz Brasil explica ainda a importância do dia 19 de abril para o seu povo. “Eu acho muito importante o dia 19 de abril para expressar a cultura indígena, para mostrar que ainda vamos continuar lutando pelo o que é nosso. Eu não tinha muito experiência com a cultura, mas lá [Sim à Vida], eles mostram bastante a cultura. A gente faz várias coisas indígenas; a gente aprende a fazer artesanato, aprende as pinturas indígenas e várias outras coisas culturais indígenas”, explica.

 

Em parceria com a Central de Artesanato do Ceará (CeArt), familiares dos participantes do SAV e moradores da comunidade receberam suas identidades artesãs e suas carteiras nacionais do artesão após concluírem oficinas artísticas, com o objetivo de valorizar o desenvolvimento sustentável nesse setor. Luana Santos, indígena Tremembé e coordenadora do projeto Sim à Vida em Maracanaú, ressaltou a importância do reconhecimento das artistas e dos artistas da comunidade Pitaguary, que se dedicam em manter as tradições e a cultura através do cuidado com o meio ambiente. “Receber a identidade artesanal e a carteira nacional do artesão é uma honra para nós que trabalhamos com isso. É um reconhecimento”, reforça. 

 

O evento contou também com ações ambientais nas aldeias Monguba, Horto, Olho D’água e Santo Antônio,  junto às equipes de saúde indígena. A relação dos povos originários com a natureza, o conhecimento tradicional sobre fauna e flora e a forma de ocupação e manejo dos territórios os torna imprescindíveis para a preservação e conservação ambiental. A relação harmoniosa com o meio ambiente é um dos pilares que organiza a ASC, tecnologia socioterapêutica multidisciplinar e de múltiplo impacto desenvolvida no Movimento. A ecofilia, termo usado para definir a relação de amizade com a natureza, compõe as ações realizadas pelos educadores de todos os núcleos do Sim à Vida.

 

A Semana de Cidadania do povo Pitaguary é uma realização do povo indígena Pitaguary, com apoio da Prefeitura de Maracanaú, do Polo Indígena Pitaguary, da Educação Escolar Indígena Pitaguary, da Secretaria de Proteção Social do Ceará, do Governo do Ceará, da Secretaria dos Povos Indígenas do Ceará, do Movimento Saúde Mental, do CRAS Indígena Pitaguary, e da Secretaria de Agricultura e Assuntos Indígenas de Maracanaú.

SOBRE A ABORDAGEM SISTÊMICA COMUNITÁRIA

 

 A ASC é um sistema socioterapêutico multidisciplinar e de múltiplo impacto, que atua na prevenção do sofrimento psíquico e existencial. Organizada sob três princípios – Autopoiese Comunitária, Trofolaxe Humana e Sintropia -, a Abordagem Sistêmica Comunitária foi reconhecida, em 2009, como tecnologia socioterapêutica efetiva e replicável pela Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social. Já em 2018, a ASC foi considerada uma inovação em Saúde Mental pelo MHIN (Mental Health Innovation Network) – vinculado à Organização Mundial da Saúde. 

 

por Gabriele Félix