Identidade, amadurecimento emocional e carreira, o fim da adolescência e o início da vida adulta costumam ser marcados por essas grandes questões que quase sempre vêm acompanhadas da insegurança. Para jovens de baixa renda essa realidade chega ainda mais cedo através da necessidade de gerar renda e ajudar nas contas de casa e, como quase toda a classe trabalhadora do Brasil, esse jovem é introduzido ao malabarismo entre assumir as responsabilidades da vida adulta e construir seu futuro. Seja através do ensino superior, de cursos profissionalizantes ou concursos, todos se encontram em um mesmo ponto de partida, a falta de experiência. A velha sentença que interrompe a tentativa de inserção do/a jovem no mercado ainda na leitura dos pré-requisitos de uma vaga, o impasse que gera a dúvida: “Como vou conseguir experiência se toda vaga exige experiência?”.
É aí que o programa Jovem Aprendiz entra em cena. Amplamente implementado em todo o país, e regulamentado pelo Ministério do Trabalho, ele tem se mostrado como uma eficiente ferramenta na inclusão de jovens no mercado de trabalho ao garantir o essencial: a oportunidade. Segundo o Ministério do Trabalho, em 2024, 58.656 jovens foram contratados/as através do programa de aprendizagem. O programa prevê uma formação técnica paralela ao exercício do trabalho, incluindo uma carga horária reduzida e um dia da semana fora da empresa, que deve ser dedicado ao curso referente à área de atuação. Os cursos podem ser administrados por instituições cadastradas no Cadastro Nacional de Aprendizagem (CNAP), e variam de acordo com a proposta do instituto, área de atuação das empresas parceiras e realidade da classe social atendida. No Movimento Saúde Mental as aprendizagens prática e teórica recebem o mesmo peso e atenção que o acompanhamento emocional.
Com os cuidados socioterapêuticos, os/as aprendizes saem da rotina de aprendizado passivo e integram suas próprias experiências em momentos que contribuem para sua formação como cidadãos. Para Ivis Andrade, de 19 anos e participante do projeto há 10 meses, os momentos terapêuticos transformam completamente o ambiente de aula, “os terapeutas da Palhoça vêm aqui e falam com a gente, nos ensinam alguns movimentos, a respirar, a agradecer, uma coisa simples, mas que ajuda bastante”, explica. Assim como Rayane Martins, de 17 anos, Ivis procurou o Jovem Aprendiz para iniciar sua inserção no mercado de trabalho enquanto explora suas opções e define a carreira que gostaria de seguir. A carga horária reduzida é essencial para os dois, já que assim, Rayane consegue conciliar a aprendizagem com a conclusão do segundo ano de seu ensino médio, enquanto para Ivis, que já concluiu o ensino médio, o tempo livre tem sido usado para explorar seus hobbies e realizar cursos nas áreas em que tem tomado interesse.
A busca pela autonomia segue na mente desse jovens, seja ela financeira, social ou emocional, eles buscam compreender o mundo e a si mesmos e encontram nesse espaço de crescimento coletivo o acolhimento que buscavam. “Eu já formei famílias aqui, colegas que quero manter por muito tempo”, explica Rayane enquanto adiciona que o espaço também contribui para essas conexões e que nas aulas dentro do Movimento eles podem discutir temas que costumam não ter abertura para tratar no dia a dia do ambiente de trabalho. Ela relata também que o interesse pelo programa partiu dela mesma, que além da vontade de possuir sua própria renda, também buscava sua independência e um amadurecimento pessoal que já percebe em si através do senso de responsabilidade que tem adquirido. Já Ivis afirma que a experiência no curso e na empresa tem impactado positivamente sua confiança e autoestima, transformando sua autoimagem “eu me sinto totalmente mudado”, completa.
Se o programa é importante para quem ainda segue tentando decidir sua carreira, ele não deixa de ser essencial para quem já está cursando o ensino superior e precisa conciliar uma fonte de renda com os estudos. Esse é o caso de Francilene de Lima, com 22 anos de idade, ela já está no Jovem Aprendiz Social do Movimento Saúde Mental há 1 ano. Essa é sua segunda experiência com o programa de aprendizagem e afirma que a carga horária e a flexibilidade do curso, que acontece no formato híbrido, são essenciais para que ela siga se dedicando a sua formação em Fisioterapia. “A flexibilidade é essencial pra mim, eu acho que compensa muito nessa parte, assim eu consegui estudar.” A aprendizagem como auxiliar administrativa que exerce agora pode não estar diretamente relacionada com a área em que ela pretende atuar, mas ela garante que a experiência nunca é desperdiçada, “tem me moldado para o mercado de trabalho”, afirma.
Francilene descreve ainda que a forma como o MSM acolhe os alunos é diferente de suas experiências anteriores e aponta as práticas terapêuticas, palestras e outros momentos de trocas como essenciais para equilibrar o estresse e as frustrações da rotina corrida. A calma e o crescimento proporcionados por esses momentos está presente nas falas e expressões de cada um/a dos/as jovens acompanhados/as. Reforçando o compromisso do MSM com a transformação social, o acolhimento e a formação consciente desses/as jovens é mais que uma política de incentivo ao trabalho e a independência financeira, é um investimento no futuro da humanidade.
- Rayane Martins
- Ivis Andrade
- Francilene de Lima
Por Lívia Vieira