O padre Rino Bonvini, presidente do Movimento Saúde Mental (MSM), foi convidado a contribuir com as reflexões da Conferência do Ministério da Esperança: Um Fórum Católico Internacional sobre Bem-Estar Mental, em Roma, entre os dias 5 e 7 de novembro.
O objetivo do evento foi aprofundar a compreensão coletiva de como o bem-estar mental é protegido e restaurado por meio da presença pastoral, do cuidado intencional e do fomento da vida comunitária, com base em experiências. Lá o padre Rino apresentou a experiência da metodologia que desenvolveu no MSM, a Abordagem Sistêmica Comunitária (ASC), uma socioterapia multidisciplinar e de múltiplo impacto que atua na prevenção e na transformação do sofrimento psíquico e existencial do ser humano.
Como destaca a página do evento – https://www.catholicmhm.org/rome-event : “Esses participantes trazem uma ampla gama de experiências pastorais no acompanhamento de indivíduos e comunidades através de feridas visíveis e invisíveis — incluindo o sofrimento frequentemente silenciado do suicídio e a desconexão mais ampla que ele revela. No entanto, é frequentemente dentro dessa fragilidade que novas formas de significado, relacionamento e resiliência podem emergir”.
Durante sua estadia em Roma, padre Rino concedeu entrevista à Rádio Vatican News, no dia 06, acerca do que apresentou na Conferência. Na ocasião, explicou que a ASC inicia por 3 passos essenciais: acolher, escutar e cuidar das pessoas. “Para que através do desenvolvimento da inteligência intrapessoal, interpessoal e transpessoal, incluindo a dimensão da espiritualidade, elas possam elaborar uma nova autoconsciência de si, com uma metodologia Biopsicossocioespiritual”.
Destacou o conceito de Síndrome da Colonialidade Internalizada, que se caracteriza por um sentimento de inferioridade muito presente no contexto do racismo estrutural brasileiro, marcando a vida das pessoas empobrecidas, descendentes indígenas, afrobrasileiros, mulheres e uma diversidade de outros grupos sociais considerados como minorias. Neste sentido, ressaltou que a ASC as ajuda a se conhecerem melhor, valorizar-se, aceitar-se e então iniciar um processo de autorrealização, para que depois possam contribuir para que outras pessoas rompam com o círculo vicioso de miséria.
E ponderou: “O Papa nos convida a refletir e agir com uma fé viva, que une fé com vida para que todos possam ter vida em abundância (…) Trabalhamos com essa espiritualidade que também integra a cosmologia indígena, porque um dos problemas mais graves do Brasil é exatamente o extermínio e o genocídio das culturas indígenas. E, portanto, a espiritualidade deve acolher e fortalecer também esta dimensão, como o Papa Francisco relatou muito bem em sua encíclica Laudato Si, valorizar a cultura indígena e sua medicina para salvar o mundo da autodestruição. Essa tendência de se desconectar da natureza, não respeitá-la, o uso indiscriminado de agrotóxicos, a crise climática, que está agora em discussão na COP 30 que está começando esses dias em Belém, na Amazônia, onde exatamente nós devemos perceber que a saúde mental também é uma questão de meio ambiente, uma questão de saúde da natureza, é uma questão de respeito pela natureza, para que todos possam ter vida e vida em abundância. Não apenas os humanos, superando o conceito antropocêntrico, mas com a ecologia integral, que integra também outros seres, animais, vegetais e minerais, pelo futuro da humanidade”.
A Conferência foi aberta com uma audiência pública com o papa Leão IV na manhã do dia 05. Nos dias 6 e 7 seguiu com a conferência de trabalho, reunindo aproximadamente 50 participantes de vários países em sessões estruturadas, mesas redondas e diálogos em grupo, explorando temas-chave como cuidado pastoral, prevenção, acompanhamento, formação e resiliência comunitária. Participam profissionais católicos, clérigos, religiosos e agentes pastorais leigos que atuam em contextos marcados pela vulnerabilidade, como zonas de conflito, corredores de migração e comunidades urbanas afetadas pela pobreza e desigualdade.
