A ementa do projeto contempla esse e outros momentos terapêuticos semanais aos alunos/as das formações gastronômicas / FOTO: YAGO MEDINA
O Gastronomia e Terapia: Caminhos para a Geração de Renda e Autoestima promoveu, na tarde do dia 03/02, uma palestra sobre o tema “O impacto das questões de gênero na saúde mental”. O momento foi conduzido pela psicóloga Daniele dos Santos Veríssimo e teve o intuito de debater os problemas e dificuldades enfrentadas pelas mulheres, priorizando a relação entre maternidade e carreira.
As alunas, reunidas no auditório da Casa AME, do Movimento Saúde Mental, foram acolhidas num espaço de escuta onde puderam compartilhar seus relatos de vida e dificuldades enfrentadas diante da problemática do patriarcado. “A ideia de hoje era a gente falar sobre os impactos dessas questões na saúde mental, desde demandas que só as mulheres trazem, principalmente pras mulheres que agora estão aqui usando do projeto para retomar sonhos ou iniciar sonhos […]. Esse é um momento que elas estão se empoderando, então precisávamos trazer tópicos sensíveis e resgatar esses sonhos”, explica Daniele.
A profissional ainda comenta que os problemas compartilhados pelas participantes podem impactar sua vida profissional, por isso a palestra foi um momento extremamente relevante para gerar consciência sobre o que sentem, ajudando a dar continuidade às suas vivências. Este foi um dos momentos de terapia semanal promovido pelo Movimento Saúde Mental (MSM) para as alunas da Escola de Gastronomia Autossustentável (EGA). O objetivo é fortalecer a saúde mental e o bem-estar durante o processo de qualificação gastronômica.
Maria Damares, aluna da EGA, relata que a importância dessa dinâmica de terapia está em poder acessar a cura por meio do falar. A dona de casa, de 43 anos e moradora do Bom Jardim, ainda reforça o valor desse e outros acolhimentos feitos pelo MSM, que propicia o acesso a psicólogos que muitas mulheres da comunidade geralmente não têm. “Esse momento de partilha faz com que nós trocamos experiência e também possamos, de alguma maneira, buscarmos as curas. Cada mulher aqui, traz consigo uma história de alegria, mas também de dor, e muitas vezes, através dessa partilha, também se dá a cura. O fato dela falar, expor aquilo que a magoou, ou então algo de ruim que aconteceu com ela, quando ela fala, ela tira aquele peso de si. […] É através da fala que nós expressamos as nossas alegrias e também nossas dores. E quando a gente escuta outras histórias, a gente vê o quanto somos fortes, o quanto nós somos guerreiras e que também podemos ajudar outras pessoas”, diz.
AULAS DE GASTRONOMIA E TERAPIA
Dando sequência às formações da semana, nos dias 4 a 7 de fevereiro, os cursos do Gastronomia e Terapia mantiveram seu foco em seus conteúdos introdutórios, dessa vez abordando a funcionalidade do Mise en Place e das Fichas Técnicas na produção de alimentos. Nas aulas, além da explanação sobre os assuntos, incluindo a importância e os benefícios, os/as alunos/as aprenderam sobre normas de uso em cozinha, tipos de fichas técnicas, cálculo de custos de produção e o papel da supervisão.
Para a parte prática, cada pessoa recebeu uma ficha técnica em branco que foi preenchida a partir das informações descritas pelo professor. A receita escolhida foi bolo de massa amanteigada, quando foi possível montar a ficha de preparação e reproduzir a receita em seguida. Como prática padrão dos cursos, ao final os/as alunos/as degustaram os alimentos como forma de perceber diferentes técnicas de preparo.
O Gastronomia e Terapia é uma iniciativa realizada pelo Movimento Saúde Mental, com o Termo de Fomento n° 961633 firmado junto ao Ministério das Mulheres, com parceria do projeto de extensão Gastronomia Social, do curso de Gastronomia da Universidade Federal do Ceará (UFC), responsáveis pelo suporte técnico e metodológico. As ações contribuem com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS): 3 – Saúde e Bem Estar, 8 – Trabalho Decente e Crescimento Econômico, 10 – Redução das desigualdades.
SOBRE A ABORDAGEM SISTÊMICA COMUNITÁRIA
A ASC é uma metodologia socioterapêutica multidisciplinar e de múltiplo impacto, que atua na prevenção do sofrimento psíquico e existencial. Organizada sob três princípios – autopoiese Comunitária, Trofolaxe Humana e Sintropia -, a Abordagem Sistêmica Comunitária foi reconhecida, em 2009, como tecnologia socioterapêutica efetiva e replicável pela Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social. Já em 2018, a ASC foi considerada uma inovação em Saúde Mental pelo MHIN (Mental Health Innovation Network) – vinculado à Organização Mundial da Saúde.
Por Richardson Lael